HENRICO ZATTANI É tortura vê-la tão feliz com outro, saber que existe alguém ocupando o lugar que é meu por direito me deixa insano, na verdade, traz o de pior em mim à tona. Parece que minha vida foi arrancada sem eu ter chance de escolha e tudo está fora do lugar. Eu me agarrei ao nosso amor quando fui preso, acreditei que ela ficaria contra o pai e me apoiaria, ou até mesmo encontraria provas da minha inocência e me tiraria de lá, mas nem ao menos uma visita ela se dignou a fazer. Aurora é quatro anos mais velha que eu e me deixou enfeitiçado com toda sua segurança, beleza e independência quando nos conhecemos. Casou com um menino do interior sem se importar com o falatório e críticas, mas acreditou na primeira mentira que ouviu. Eu não sou mais um menino. Não sou mais tão ingênuo e definitivamente não tão apaixonado. Ela não parece mais com a minha Aurora. No entanto, meus pensamentos sempre são guiados para os momentos em que vivemos juntos, os poucos meses que passamos nos amando na minha fazenda foram reais e significativas para mim. Recuso-me a acreditar que para ela foi uma mentira, um passatempo, tem que ter significado algo. — Você ainda está nessa? — Guilhermino pega a pequena foto que eu encarava e afasta de mim. O encaro surpreso, não ouvi os sons dos seus passos, apesar de estarmos no estábulo e existir muito feno pelo chão. Franzo o cenho, agora irritado por ser pego em um momento de fragilidade e íntimo. Pego a fotografia de volta e coloco na minha carteira, ignorando seu olhar. — Não é da sua conta. — Resmungo, colando a carteira de volta no bolso da minha calça. — Você precisa superar essa mulher, na verdade, precisa superar toda essa gente. — Ela era minha mulher. — Falo, possessivo, irritado, cansado. Ele me encara avaliativo, tentando absorver todos os significados das minhas palavras e expressões. Seu olhar fica mais duro e me preparo para ouvir o pior. — Era. Ela está casado com outro e não dá a mínima para você, então desapega e cuida da sua vida, moleque. Meus punhos se fecham. Sinto meu corpo inteiro tensionar em defensiva. Ele está me testando, nunca fui um homem explosivo, mas a cadeia também cuidou de mudar isso. Ele não entendeu que já não sou o mesmo. A postura de irmão mais velho não vai me fazer retroceder e nem me assustar. Eu presenciei e fiz coisas piores. Só desista de tentar me impedir. — Não é da sua conta. Eu ainda não terminei com Aurora, preciso entender o motivo dela ter me deixado e pedido o divórcio sem nem ao menos me ouvir. — Céus, você ainda a quer? — Pergunta incrédulo. — Eu quero muitas coisas no momento, mas minha vingança ganha em disparada. Ele bufa. — Você ainda a ama. — Mantenho meu silêncio, ainda comprimindo minhas mãos em punhos. — Ok, faça o que quiser. Vou me preocupar com a fazenda e deixar você lidar com suas merdas sozinho. Ele sai, virando as costas sem dizer nenhuma palavra a mais. — Você não entende, enquanto eu estava preso naquele lugar eles comemoravam aqui fora. Minha infelicidade foi a felicidade dos Leal por muito tempo, agora eles precisam pagar. Libero meus dedos do meu aperto e afrouxo os punhos. Ele cessa seus passos, demorando alguns segundos parar girar o corpo e encarar, dando um longo suspiro antes de olhar fundo em meus olhos. — Você continua preso, Henrico. Continua preso aqui e aqui. — Ele aponta para a sua própria cabeça e depois para o peito, bem em cima de onde fica o coração. Volta a andar, dando—me as costas novamente. O observo se distanciar cada vez mais, sentindo o amargo que suas palavras trouxeram. Meu telefone vibra no bolso de trás da calça e afasto os pensamentos confusos que não quero ter que lidar agora. Deixo um sorriso brincar em meus lábios quando leio a mensagem, respondendo de imediato. Mandei um novo número para ela, o pessoal. Descartei o anterior e mantenho outro para falar com Soares e sua corja. Eles serão úteis no momento certo, o melhor agora é deixar com que pensem que estão no controle. O jogo é meu. Aqui, todos são meus peões e nem mesmo a rainha vai se safar. Sério, você é algum psicótico? ×× Se eu fosse, não te responderia de forma positiva, Amélia. ×× Você tem razão, então o melhor é parar de te responder." Franzo o cenho, não entendendo porque essa possibilidade fez um desconforto se remexer em meu corpo. Você não consegue mais viver sem mim, seus dias se tornaram melhores comigo. ×× Abaixe a bola, Sr. Mascarado. Tenho uma fila de pretendentes." Arqueio uma sobrancelha para sua resposta. Ela parece atrevida hoje. ×× Oh, sim. Fale-me mais sobre isso. ×× Não posso, tenho um compromisso agora. ×× O que pode ser melhor que falar comigo? Céus, eu me sinto tão adolescente fazendo esse joguinho. Encaro a tela do celular esperando pela sua resposta. Se estivéssemos conversando por alguma rede social agora, poderia checar se ela está online e visualizou minha mensagem. Do que eu estou falando? Visualizar mensagem. Cacete, isso não está acontecendo. "Conversar pessoalmente com alguém de verdade". ×× Eu sou de verdade. ×× "Não estou certa sobre isso, você pode muito bem ser fruto da minha imaginação, eu estava tão bêbada naquele dia. ×× Achei que não bebesse com estranhos. ×× "Só quando eles são frutos da minha imaginação." ×× Só uma imaginação muito fértil para me criar, perfeição pura. ×× "Seu ego está me sufocando mesmo por mensagem, para você é tchau. ×× Sério, o que é melhor que falar comigo? Olho ao meu redor, checando se não tem nenhum funcionário da fazenda me espiando agora, devo está com uma cara de idiota e não quero ser pego novamente. A bastarda não é tão ruim. Espero que chegue mais uma mensagem sua, mas os minutos se arrastam e me canso de esperar. Pego o outro telefone e disco para um dos cinco números salvos. — Me diga que tem novidades. — Falo. Uma pausa se instaura, o homem do outro lado da linha deve tá estudando minha voz para reconhecimento já que não me apresentei. — Sim, parece que o genro de Augusto Leal não é tão certinho quanto aparenta, parece que uma filha é pouco para ele. Aperto o celular contra meu rosto. Sentindo meu corpo inteiro queimar com a sugestão do homem — Como assim? — Pergunto. — Amélia Leal, a irmã mais nova da sua ex mulher está trocando carícias com o próprio cunhado. Arremesso o celular longe, sentindo meu peito subir e descer com aumento da minha respiração. Eu deveria estar feliz com essa informação, mas por algum motivo eu quero arrebentar algo.
Cảm ơn
Ủng hộ tác giả để mang đến cho bạn những câu truyện hay
legal
4h
0amei 💖 😍 muito bom, boa escrita envolvente 👏👏👏👏👏
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