Música tema do livro: DRAGONNETE- HELLO _______________________________________________ Um silêncio agoniante preenchia todo o ambiente. O Rei Cauzce parecia perder-se aos poucos nos próprios pensamentos. E com muita razão. Descobrira naquela maldita manhã que exércitos inimigos haviam cercado toda a cidade de Tashalla. Os olhos negros do Príncipe Fewlen alternavam entre inquirir o pai, em busca de soluções, e encarar os nobres presentes, admirado com tamanha frieza e indiferença. — Vai mesmo deixar centenas de pessoas morrerem lá fora? — questionou o rapaz, tomado de indignação. Cauzce olhou para ele sem dizer nada. Mas no fundo, o Príncipe já sabia a resposta. Ao lado do Rei, Fewlen pôde ver um brilho estranho nascendo aos poucos nos grandes olhos escuros de seu irmão Coayli. Então já estava decidido. Cauzce havia escolhido apenas os nobres. E todos os cidadãos fora dos muros daquela residência iriam morrer lutando por um soberano que não valia a pena. — Conseguirei novos escravos assim que me reerguer em outro lugar. — as palavras proferidas por Cauzce causaram ainda mais repulsa no filho mais velho. No entanto ele não estava nenhum pouco surpreso com aquilo, afinal, conhecia o próprio pai melhor do que ninguém. Fewlen soltou um longo e pesado suspiro. Então olhou para a sua jovem esposa Zatalim, que permanecia agarrada em seu braço direito, observando tudo com os olhos carregados de medo e tristeza. Ele não poderia permitir que as coisas tomassem aquele rumo. — Podem ir. Ficarei aqui para lutar ao lado do meu povo. — vários olhares de reprovação e cochichos foram direcionados ao rapaz. Coayli explodiu em uma gargalhada. Cauzce apenas ficou-o encarando, incrédulo, como se o herdeiro tivesse dito uma grande bobagem. — Não seja ingênuo! Vai morrer se ficar aqui! — o caçula bradou, mas claramente para não fazer feio diante dos nobres, pois o Rei sabia que Coayli desejava com todas as forças herdar o trono de Tashalla. A morte de seu irmão Fewlen seria um grande presente para ele. O mais velho nada respondeu. Apenas pegou na mão da esposa e levou-a para um canto mais isolado do salão. — Vá com eles. — Zatalim meneou a cabeça negativamente. — Irei encontrá-la assim que puder. A jovem gesticulou com as mãos em uma linguagem que apenas ambos compreendiam. — É melhor assim. Ficará segura. — ele aproximou-se e tocou-a no rosto. Então seus lábios se encontraram em um beijo tímido, porém carregado de muita dor. A moça não tinha certeza se o marido realmente retornaria para ela. E pensar naquilo a despedaçava por inteiro. Abraçou-o com muita força, Fewlen fez o mesmo, aninhando-a em seus braços fortes, inspirando por uma última vez o aroma de jasmim da amada. — OS INIMIGOS ADENTRARAM A CIDADE! — a voz esganiçada de um soldado rompeu o pouco da paz que ainda existia naquele ambiente. Mulheres, homens nobres começaram a entrar em desespero. Coayli deixou escapar um palavrão, e o Rei praguejou alto, ao perceber quanto tempo haviam perdido ali esperando que os demais nobres chegassem. — Pai...são quatro cidades em Tashalla. E todas distantes. Esses bastardos deveriam ter vindo para cá assim que emitimos o aviso! — Coayli estava claramente entrando em desespero. Cauzce passou a mão pelos cabelos bastante nervoso e lançou um último olhar para o filho mais velho, que observava a tudo com uma determinação invejável brilhando nos olhos escuros. — Venha conosco, Fewlen! É o Imperador que está nos atacando. Não temos soldados suficientes para encarar um exército cinco vezes maior. — disse o Rei. Fewlen fechou ainda mais o semblante, mas nada disse. — esta guerra já está perdida. Aceite! — Tudo que quero é partir com vocês. E principalmente ficar com a Zatalim. — Coayli de repente ficou tenso com as palavras do irmão. — mas o senhor acha justo abandonar o reino assim, e deixar toda a nossa gente ser dizimada pelo Imperador? — Não há como levar todo mundo. — o rei deixou bem claro pelo olhar que não pretendia mais estender aquela conversa. Afinal o tempo estava passando e era questão de tempo até os soldados inimigos invadirem o palácio. Fewlen ficou decepcionado, extremamente decepcionado. Lançou um último olhar para a sua família, para a sua amada Zatalim, e para todos os cinquenta nobres de corações frios que ali aguardavam. Então bradou: — Farei um brinde à todos vocês, covardes e sanguinários! — Ele já está decidido, pai. Vamos embora. — Coayli antes de sair do salão junto aos demais nobres, olhou para trás como se quisesse se certificar de que o irmão realmente ficaria ali em Tashalla. Fewlen teve a certeza de que ouviu um ''até nunca mais'' escapando dos lábios adolescentes. E o mais velho estranhamente não estava nenhum pouco surpreso com aquilo. Aos poucos o salão foi esvaziado. Zatalim estava estática, com lágrimas caindo pela face morena. Fewlen estava lutando para não desabar ali mesmo ao vê-la naquele estado. Ele precisava ser forte. Precisava estar forte para liderar o exército que defenderia a capital de Tashalla. Uma mulher voltou e levou a moça consigo. Fewlen acompanhou-as de longe até o local de partida, já vendo muita fumaça tomando algumas partes da capital. Cauzce, Coayli e os nobres pararam diante da imensa pirâmide verde — nomeada pelos antigos seres do céu como El´chakchta, — e ali então o rei começou a proferir um encantamento estranho. O amuleto em seu pescoço brilhou com força, forçando o próprio Fewlen a desviar o rosto. Quando o Príncipe foi observá-los outra vez, na esperança de finalmente entender como seu pai usaria a El´chakchta, todos eles, inclusive Zatalim, haviam desaparecido sem explicação alguma. O rapaz correu até a pirâmide e olhou para o alto. Depois olhou para a base, buscando uma explicação para aquele segredo de família que seu pai nunca teve a boa vontade de compartilhar com os filhos. Somente quando Fewlen notou uma fenda se fechando aos poucos na construção, é que suas dúvidas — ou quase todas as dúvidas,— foram sanadas. Com dificuldade e debaixo de um monte de perguntas Fewlen conseguiu reunir o exército na capital. Alguns nobres chegaram depois, e ficaram extremamente furiosos por Cauzce tê-los deixado para trás, mas aliviados pelo Príncipe estar ali lutando pela nação. Decidiram se juntar à ele. Como a cidade já estava parcialmente cercada, logicamente seria muito difícil retomar o controle. Depois de uma batalha árdua de exatos vinte dias toda a Tashalla foi tomada pelo exército inimigo. Fewlen no entanto lutou bravamente ao lado dos aliados. Muitos cidadãos Tashalunis conseguiram escapar com vida. Também houveram muitas perdas. O Imperador Asguzi, responsável pela invasão, estava presente no confronto. Fewlen conseguiu matá-lo. Mas não saiu ileso. A espada envenenada do Imperador causou-lhe um ferimento superficial na barriga. A princípio a situação parecia até sob controle. Mas o príncipe começou a definhar lentamente conforme as horas avançavam. Vahad, seu melhor amigo, ofereceu-se para guiar o exército Tashaluni. E assim permaneceu até o vigésimo dia... pouco depois os soldados inimigos recuaram após encontrarem o corpo sem vida do Imperador às margens do grande rio Evuhkoa. Mas de nada mais adiantava a rendição. O herdeiro de Tashalla havia sido ferido pela lâmina envenenada. A vida estava sendo drenada aos poucos de seu peito. E enquanto deitado em uma cama qualquer, cercado pelo seu povo e sob os cuidados de uma curandeira e de seu fiel amigo Vahad, apenas uma palavra escapava dos lábios pálidos do príncipe: — Zatalim... — Em breve irá vê-la. —Vahad dizia em uma tentativa de acalmá-lo. E também acalmar a si próprio. No fundo sabia que aquilo não era verdade. Todos sabiam. O futuro rei estava morrendo. — Eu falhei...em minha promessa. Disse que iria encontrá-la e agora estou partindo... Vahad encarou-o com os olhos levemente marejados. — Não falhou em nada. Por favor, não diga bobagens! Escolheu ficar e lutar quando seu pai nos abandonou. Ficou aqui, por nós! E matou o Imperador Asguzi! Tem noção do que isso significa? Fewlen fechou os olhos e sorriu. De fato, matar o Imperador fora algo extremamente imprevisível. E ele estava feliz com aquele feito. Mas nada o deixaria mais feliz do que se reencontrar outra vez com sua princesa tribal. O príncipe permaneceu mais algumas horas vivo. Tudo o que ele almejava era ver Zatalim. E Vahad pôde testemunhar Fewlen sussurrar aquele nome uma última vez antes do sopro da vida abandoná-lo por completo. Não demorou para que as notícias se espalhassem; pouco depois da morte do herdeiro, Coayli retornou à Tashalla. Sozinho. O jovem Príncipe explicou que uma peste havia se alastrado entre eles. Metade dos nobres, Zatalim e o rei tiveram suas vidas ceifadas pela doença. E ao saber que o irmão havia morrido, ele decidiu voltar para não deixar Tashalla sem um governante. Claro que o discurso a princípio não fora muito convincente. Mas, conforme os dias foram passando, o povo começou a aceitar aos poucos Coayli como o novo rei da nação. No entanto ele não estava satisfeito. Mesmo depois de se sentar naquele maldito trono, mesmo depois de conquistar a confiança de todos, Coayli não conseguia entender como Fewlen continuava sendo lembrado e comentado como o grande herói do reino. O jovem rei não conseguia aceitar o fato de que aquele desgraçado continuava roubando a atenção de todos mesmo após a morte. Então, durante um surto psicológico, Coayli foi até a tumba onde estava o corpo de seu irmão. Com um machado destruiu tudo. Não tinha a intensão de denegrir o cadáver. Apenas a tumba, para descontar a raiva. No entanto a arma acabou por atingir o corpo, e Coayli decidiu terminar a tarefa por completa. Destruiu o máximo que pôde. Ele sabia que nada que fizesse apagaria a história. Seu irmão Fewlen havia lutado ao lado do povo. E por aquele motivo seria eternamente lembrado.
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