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Senti braços finos me envolverem conforme meu corpo afundava. As lágrimas não pareciam ter fim. Mas a cerimônia continuava. Nomes e mais nomes eram chamados, a maioria era reprovada. Dos cem candidatos, pelo menos vinte conseguiram passar. Por que meu irmão não? Eu permanecia com as mãos no rosto, a cabeça abaixada e os cotovelos apoitados nos joelhos. Naquele momento, me arrependi infinitamente por ter me sentado na frente. Além dos braços finos ao meu redor, senti uma mão pesada sobre minhas costas, me acariciando devagar. Não tinha mais neurônio algum capaz de adivinhar de quem era. Por isso só me assustei quando sua voz me penetrou pelos ouvidos, enviando milhares de descargas elétricas por todos os meus nervos.
— Você não precisa ficar aqui. Acene com a cabeça, que eu te levo pra longe desse lugar.
O máximo que fui capaz de fazer, foi tremer o pescoço. Mas o anjo entendeu o movimento como sua deixa para me tirar daquela praça aberta, extremamente sufocante. Ele envolveu os braços fortes ao redor do meu corpo trêmulo, e me arrastou para longe das fileiras de cadeiras brancas. Aqueles lençóis brancos idiotas, desejei que um raio caísse bem em cima daquele palco bem engomado. As lágrimas ofuscavam minha visão, me fazendo tropeçar em meus próprios pés mais de uma vez durante o trajeto. De repente as botas confortáveis me pareceram mil vezes mais apertadas. Eu estava quase fora do alcance do som das enormes caixas do palco, quando aquele nome foi pronunciado.
— Metatorn
Meu sangue gelou, impedindo qualquer outro movimento vindo de minhas pernas. Ao mesmo tempo, minha cabeça ferveu. E com o lado mais sombrio de mim, esperei que aquele convencido ridículo também não passasse.
— Aprovado.
Mas ele passou. E de alguma forma, eu uni forças para encarar aqueles olhos verdes convencidos uma ultima vez. Metatorn havia passado. E meu irmão não. O homem que matou minha irmã passou, e meu irmão restante foi jogado aos lobos.
— Você está bem?
Um lampejo de cabelos loiros pálidos ultrapassou minha visão periférica, antes de o rosto perfeitamente preocupado de Az olhando em minha direção tomar lugar. Suas sobrancelhas grossas quase se uniam em confusão. Por que ele havia me tirado de lá afinal, para zombar de mim? Quando olho para baixo percebo o porquê dos mil arrepios que percorrem minha pele. Estamos de mãos dadas. Eu as puxo imediatamente, fazendo o queixo de Azazel cair em indignação.
— Só estava tentando ajudar.
A raiva explode dentro de mim. Não necessariamente direcionada a ele, mas a qualquer humano com asas, qualquer um mais merecedor que meu irmão.
— E por que? Quer zoar da minha cara? Porque você conseguiu e meu irmão não? Por que você conseguiu afinal?
Mal percebo que as lágrimas voltaram a cair. Dou um passo para trás, tentando me afastar do homem estonteantemente lindo que afeta meus sentidos, mas uma elevação da calçada me faz tropeçar. Fecho os olhos conforme sinto o chão se aproximando em câmera lenta, esperando o baque. Mas não o atinjo. Porque uma mão firme se fecha em meu pulso, e me puxa de volta para cima. Meu corpo se choca contra o seu, e se encolhe. Quando já me sinto segura em seus braços, sua voz rouca e nada zombeteira volta a dizer:
— Eu sei que não é justo. E acredite, nem eu sei como consegui. Eu não queria conseguir.
Afasto a cabeça de seu peito para olhar para cima, afim de encara-lo. Não há um pingo de humor em suas feições, ele tampouco parece fechado como minutos atrás.
— Eu quero te mostrar uma coisa.
De repente estamos de mãos dadas. E minha cabeça gira tanto com as informações, que não me movo mais que o necessário. Me deixo ser arrastada até onde quer que essa tal coisa esteja. Até um carro. Vermelho e brilhante, sofisticado e aparentemente caro. Azazel só larga minha mão para abrir a porta para mim. Eu entro, como um robô sendo guiado por um controle remoto. Me enfio no banco do carona e espero até que Azazel dê partida no carro para falar novamente.
— Para onde vamos?
— Espere e verá.
Enxugo os olhos com as costas das mãos, e encaro a janela. Não quero me perder naqueles olhos azuis-ciano, não mais. Durante todo o percurso, sinto esses mesmos olhos sobre mim. Sinto a tensão pesar no ar, como se fosse palpável. Talvez minha mente atordoada tenha calculado mal, mas haviam se passado mais de vinte minutos quando Az finalmente parou. De alguma forma meus olhos não captaram o momento em que o carro deixou a cidade. Eu estava agora longe dos prédios e barulhos ensurdecedores, das festividades do ritual assustador de asas. Azazel estacionou seu belo carro quase na beira de um penhasco. Desci com cuidado, me segurando forte na porta do carro para evitar desastres muito grandes.
— Eu vim aqui quando meu irmão não passou.
A voz melancólica carregada de mágoa de Az, faz com que meus olhos me traiam, desviando para sua direção . Suas asas parecem encolhidas, como se de alguma forma tentasse escondê-las. Vejo seus ombros se encolherem, fazendo o cabelo loiro oscilar com o movimento. Suas mãos se enterram no bolso da calça social, que automaticamente não parece se encaixar com o visual grosseiro dos metais em sua pele.
— Seu irmão?
Seu olhar permanece na queda de metros à nossa frente. Na queda iminente para qualquer um sem asas.
— Meu irmão mais novo. Ele foi rejeitado depois que eu fui aceito. Não era justo, e aposto que se você passar, vai pensar a mesma coisa.
Azazel se senta na beirada ameaçadora, provavelmente porque pode bater as asas ao seu favor em qualquer momento que precisar. Tomada pela certeza dessas asas, que de alguma forma me traziam certa confiança, resolvi me sentar ao seu lado, largando a segurança da porta do carro por fim.
— Depois que ele foi levado...
Espero que Az continue, mas tudo o que faz é engolir em seco algumas vezes. Poderia jurar que vi seus olhos se encherem de lágrimas, mas não deu tempo pra ter certeza.
— Bom, pode gritar e chorar o quanto quiser, aqui ninguém vai te incomodar. Vou deixar o carro aqui caso queira voltar para a cidade, ou se quiser ir direto pra casa. Eu busco depois.
Então a carranca voltou. Tão simples e fácil como veio, a expressão de empatia e entendimento se foi, dando espaço mais uma vez para a tão famosa cara fechada. E rápido como um raio, Azazel se levantou, e bateu as asas para longe. E tudo o que eu conseguia pensar era: não sei dirigir.

Komento sa Aklat (1672)

  • avatar
    Brenda Victoria silveira

    vyctybyjih

    2h

      0
  • avatar
    Káh Santos

    de mania de voce

    3h

      0
  • avatar
    PereiraJosilene

    um livro muito bom

    4h

      0
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