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A caçadora violeta

As janelas dos quartos reais são especialmente enormes, e eu odeio isso. Quando era pequena, estava brincando com Kushter quando uma ave enorme bateu contra o vidro límpido e estourou os miolos na nossa frente, me traumatizando por inteiro. Desde então sempre insisto para ficar nos quartos com menores janelas, até que o quarto no andar das salas de reunião ficou como meu. Ele já tem minha cara, nas cortinas rosas, nos tapetes roxos e no dossel da cama delicado. Na casa de campo, as vezes me esqueço de que sou uma princesa. Aqui, as manias e bajulações nunca me permitem ser outra coisa. Me levanto da cama derrotada, tentando pensar em algo além daquele quarto enorme, de alguma forma abafado. Chego perto da única pequena janela do quarto, e a abro para sentir a miséria de brisa que ela permite entrar. Talvez tenha alguma vantagem em dormir em um lugar com mais janelas.
— É o primeiro dia, e você já vai se jogar?
Temrys enfia sua cabeça para dentro do quarto, antes de escancarar as portas com estilo. Depois que elas se abrem, o Mitcha arrasta duas malas pesadas para dentro.
— Você não tem roupas suficientes nesse castelo? Sua mãe me mandou buscar mais.
Ignoro o comentário, conforme corro na direção das duas malas que ele larga no chão. Abro o zíper de ambas e começo a transportar as peças, uma a uma para um dos guarda-roupas daquele quarto. O outro está vazio, e percebo que Temrys não havia trazido nada além de minhas roupas.
— E o que você vai vestir?
Pergunto por cima do ombro, quando ele se joga na cama enorme demais para só duas pessoas. Penso nisso a todo instante, em como poderia me arrastar até ele nas noites frias, acordar com a cabeça apoiada em seu peito sem que ele percebesse.
— Sei que a maioria das pessoas costuma querer que eu não vista nada.
Ele zomba, mas quase concordo. Seguro um riso, e jogo uma camiseta rosa em sua direção. A peça de roupa acerta seu rosto em cheio, e ele finge raiva. Ainda mascarando a emoção do divertimento, ele se levanta e joga a peça de volta em minha direção, mas eu a pego com a maior facilidade, e a enfio em uma gaveta.
— Maldito reflexo de olhos rosa. — Ele murmura. — Seu tio vai buscar minhas roupas, não quer que eu a deixe sozinha. Seus pais precisam se concentrar na missão, e eu tenho que cuidar de você.
Uma emoção esquisita passou por meu estômago, senti borboletas por todo lado. Quis gritar, pude sentir minhas bochechas corarem. Mas apenas revirei os olhos para Temrys.
— Bom... — a linda criatura se levantou em um salto, e apontou para o guarda-roupa que eu arrumava— se troque, vamos treinar.
Virado de costas para não me espiar, Temrys esperou. Ignoro a vontade de que ele me visse dentro de mim, e começo a vestir calças e uma camiseta leve. O sol da tarde queima sem piedade, então tento buscar roupas o mais fracas possíveis, ciente de que vou suar como uma condenada.
— Pronto.
Calço as botas e sigo meu amigo para fora do quarto. Não consigo evitar de pensar sobre a ameaça iminente enquanto atravessamos até a arena de treinamento, o lugar onde tia Gretta havia dado à luz no meio da guerra. O macho que caminhava ao meu lado, foi quem ajudou a tirar meu primo de dentro dela. Porque o resto dos Mitchas ali naquele dia — incluindo minha mãe— , apenas assistiu e se desesperou. Temrys era o Mitcha mais incrível que eu conhecia.
— Pernas flexionadas.
Obedeci, dobrando os joelhos. O sol rachava acima de nós, suor já escorria por minhas têmporas.
— Mas o que diabos está fazendo? Não é um agachamento.
Aliviei um pouco a pressão dos joelhos, apertando os dedos dos pés, mas sem desdobra-los completamente. Temrys era simplesmente um monstro naquela arena. Eu já havia visto ele treinar algumas vezes, apenas de relance para evitar babar em seus músculos, mas foi o suficiente. O suficiente para jamais desejar estar no lugar de qualquer um deles. E apesar de saber que Temrys jamais me machucaria pra valer, eu ainda temia que uma leve tortura fosse necessária.
Eu sempre fui magra demais. Braços e pernas finas, não era nem de longe encorpada como minha mãe. A caçadora violeta, possuía o corpo todo torneado, uma força sobre humana até mesmo antes de deixar de ser uma, segundo meu pai. A cor dos olhos sempre influenciava mesmo que um pouco na hora de desenvolver habilidades, e minha mãe era prova disso. Mas eu era exceção. A cor mais rara de olhos já registrada, era o rosa, e ainda assim eu era a pessoa mais fraca naquele mundo. Tentei aprender a lutar, tentei ficar mais forte. Nada nunca funcionou.
Vinte minutos. Temrys me fez ficar naquela posição por lindos vinte minutos, sem nem sequer mover um dedo para me ajudar a treinar. Ele só me observava. Não com desinteresse, mas eu ainda me sentia deixada de lado. Mantive os punhos erguidos, meu corpo doía, meus joelhos rangendo, as coxas finas gritando por entre meus tendões. E Temrys só me olhava. O sol queimava em meu rosto, e eu tinha certeza de que sairia vermelha como um pimentão dali. Minha barriga roncava, não havia almoçado.
— Está pensando demais. Cale sua mente.
Tentei fazer isso. Mas cada respingo de suor da minha testa era um pensamento mortífero dirigido a algo. Aquilo me irritava. Eu ser fraca me irritava, meu cabelo grudando no pescoço me irritava, meus braços trêmulos, minha fraqueza, a força e o dom da minha mãe... tudo aquilo me irritava.
— Acha que foi fácil pra Kelly? — Temrys estava sério agora, nenhuma sombra de divertimento dançando nas chamas ardentes de seus olhos. — Ela foi criada para ser uma assassina, desde os seis anos de idade. Tem noção disso?
Sim, eu sabia. Sempre soube, cresci ouvindo aquela história. De como crescer sozinha havia a fortalecido, como isso estreitou os laços dela com tio Teodoro e tudo mais.
— Ela viu os pais e o irmão estripados não frente dela, e relacionou isso com o ódio que sentia por Mitchas. — Temrys continuou.
Sim, Mitchas, o povo que era súdito do meu pai. Minha mãe os odiou desde o começo da vida, até descobrir que toda a morte de sua família era culpa do governador, e não dos monstros que ela pensava que os Mitchas eram.
— Na primeira vez que a vi, pensei que só seu olhar pudesse me matar. Os olhos dela emanavam puro ódio, e ela usava aquele manto de calma letal. — Não relaxei a posição. Temrys ainda a conferia mesmo enquanto falava. — Ela era forte, mas não só isso. O ódio dela, o objetivo dela era forte. Sua mãe sempre teve um. Primeiro era exterminar os Mitchas, depois se tornou ajudar seu pai e então quando descobriram o laço, ela dividiu o mundo ao meio para encontrá-lo.
Temrys fez sinal para que eu relaxasse, e eu quase gemi de alívio quando desabei no chão. Ele parou de frente para meu corpo estirado, e continuou a dizer:
— Seu pai pode ser mais poderoso que ela, mas até quando humana, seus objetivos eram mais fortes. Por isso, Enolan não conseguiu parar ela. E agora o objetivo dela é proteger você.

Komento sa Aklat (1961)

  • avatar
    CavalcanteLeandro

    muito bom!

    5d

      0
  • avatar
    DouglasJanderson

    😍🥰

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  • avatar
    StarkJoao

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