Coloquei minha cabeça em seu ombro e Nicholas passou seus dedos em meu cabelo devagar, sorri imediatamente quase que sem perceber. Algum dia, eu saberia mais sobre seu filho e todas as histórias incríveis que o escritor tem para me contar mas hoje não era o dia certo para isso. Ficamos juntos assim até chegar ao local, Hayes pagou o táxi e me ajudou a sair do mesmo, me dando sua mão como apoio. Logo depois me guiando com o braço até o lugar o que me fez sentir como aquelas atrizes no red carpet.
O teatro era absolutamente enorme e várias pessoas vieram nos cumprimentar no caminho até o local da apresentação, acredito que o rapaz era realmente famoso aqui, apesar de fazer pouco caso disso. Entramos e sentamos bem à frente do palco, parecia uma ótima cadeira, dando visão ampla da apresentação.
— Você quer fazer algo quando acabar? – Nich perguntou me olhando com certo carinho, gostava de quando me olhava assim.
— Tipo?
— Sei lá, fugir para outro país, uma boate, um restaurante, uma lanchonete... Temos tantas possibilidades. Só não quero ser preso, por favor. – Ele sorriu de forma doce, tive que rir junto, esses momentos eram preciosos para mim.
— Podemos ir em uma lanchonete, acho que me sentiria mais confortável.
O loirinho assentiu e conversamos um pouco sobre histórias que já passamos, em geral histórias engraçadas! Acreditem, tenho muitas dessas para contar. Ele me contou um pouco sobre cada um da trupe que fica lá no bar, até a hora que a peça realmente começou.
Foi uma peça muito engraçada porém com um final trágico, me impactou de formas que nunca imaginei. Passei o tempo todo com os olhos bem abertos prestando atenção em cada detalhe para não perder nada da história. Quando acabou parecia que algo faltava, mas não de uma forma ruim, pelo contrário, fiquei mais que impressionada. E então fizeram um breve discurso sobre aquela ser a última apresentação da peça, como foi estar participando e chamaram o autor ao palco, era ninguém mais ninguém menos que Nicholas Hayes. Meu queixo caiu, eu já o admirava demais mas em saber que ele escreveu aquela história incrível fiquei ainda mais encantada.
Todos levantaram e o aplaudiram e eu não fiquei de fora, estava orgulhosa como uma mãe que vê a primeira apresentação do filho na escola. Assim que desceu do palco, Hayes me deu seu braço novamente e começamos a sair do local enquanto várias pessoas nos paravam para parabenizá-lo, porém o mesmo não parecia querer muito papo! Apenas sorria e acenava na maior parte das vezes.
— Hayes, não vai ficar para o after? – Um dos rapazes que estava na peça perguntou nos parando. Ele era um dos coadjuvantes e ainda estava com muita maquiagem artística, observei os detalhes com atenção.
— Não, valeu cara. Tenho planos com essa garota incrível, não posso desmarcar. - Sorriu de lado, me puxando para perto de si.
Me perguntei se ele estaria sendo irônico ou não, mas é melhor pensar que não pelo bem da minha saúde mental.
— Ah, não, Nicholas... Pode ficar eu posso pegar um táxi e ir para...- Antes que eu terminasse ele me cortou da forma mais polida que pôde.
— Não, não. Até mais, John.
Dizendo simplesmente isso nos viramos e seguimos andando, não falamos sobre mais nada durante alguns minutos. A cena de antes não saía da minha cabeça, quanto mais eu acho que conheço ele mais vejo que na verdade não sei nada e isso complica ainda mais nossa relação de amizade.
Suspirei, quando percebi já estávamos a frente da lanchonete, só precisamos atravessar a rua e andar um pouco. O lugar que meu companheiro escolheu para comermos era bem normal, nada de muito extraordinário mas tinha uma vibe bem acolhedora. Nich foi fazer o pedido e pagar enquanto eu me sentava em uma mesa próxima à porta, gostava de observar as pessoas que passavam e imaginar suas respectivas histórias. O local tinha um ar-condicionado que estava me congelando aos poucos, o que iria acabar me fazendo passar a noite toda espirrando como uma louca.
Comecei a pensar novamente no meu futuro apartamento, é o que faço nas horas vagas em que minha mente não tem nada de mais produtivo para fazer. Senti tanto frio que tive que me aquecer com minhas mãos esfregando-as nos braços até que experenciei um tecido sendo posto sobre mim, levantei o olhar e vi Nicholas sentando à minha frente agora sem o paletó, arrumando sua camisa social.
O achava mais fabuloso assim, sua camisa branca era fina e mostrava mais sem o paletó, o colete dava um charme espetacular aos seus olhos e rosto em geral.
— Não precisava... - Comecei a falar, envergonhada por essa situação.
— Você é minha dama, tenho que ser um cavalheiro – Ele falou e deu uma piscadela gerando um sorriso em meu rosto, era no mínimo engraçado como nossa amizade era tão forte em tão pouco tempo ao ponto de isso não soar constrangedor.
— Obrigada, mas... Nich, posso te perguntar algo sobre a peça? – Indaguei com esperança e observei ele fazer que sim com a cabeça — O que aconteceu com Eleanor?
— Ela se suicidou, você viu que ela se tornou um anjo da morte depois disso – Hayes colocou seus braços sobre a mesa enquanto me explicava gesticulando devagar, eu olhava cada detalhe com o máximo de atenção possível tentando ler as entre linhas.
— Certo, mas ela falou com o rapaz como se fosse ver ele de novo e eu simplesmente não posso aceitar que eles não fiquem juntos – falei indignada batendo levemente minhas unhas na mesa da forma mais rápida que conseguia naquele momento.
— Você é fofa, Olívia – ele sorriu e eu senti minhas bochechas esquentarem.
Antes que eu pudesse falar uma besteira nosso pedido ficou pronto e a garçonete veio trazer, agradecemos e eu decidi que era melhor ficar calada por um tempo. Ele havia pedido para si um combo com hambúrguer e eu estava comendo batatas fritas com refrigerante e um milkshake. Nich puxou seu celular para mexer enquanto comia, um hábito que percebi desde que nos conhecemos. O observei, parecia que tentava descartar essa mania quando estávamos juntos mas nem sempre conseguia. De repente, ouviu-se o sino do estabelecimento e eu direcionei meu olhar à porta, por pura curiosidade.
Ao bater meus olhos naquele rosto familiar gelei, minha mão começou a suar e meus olhos fixaram no casal que estava na porta. Uma garota magra, grávida de uns 4 meses, usando um vestido florido e o cabelo preso em um coque. O garoto ao seu lado estava com os braços em seus ombros e usava uma bermuda jeans e uma camisa polo. Sorria descaradamente, seus cabelos ruivos e despenteados cobriam seus olhos de uma forma que eu infelizmente já conhecia bem.
— Puta... Que... Pariu – falei com os olhos vidrados, Nicholas seguiu meu olhar.
Foi aí que Freddie me olhou, seus olhos castanhos claros clicaram com os meus. Em seguida direcionou sua namorada há uma mesa não muito longe, sem cortar o contato visual que sua companheira não pareceu notar.
— Você o conhece? – O escritor me tirou dos meus devaneios.
— Meu... Noivo... Ex-noivo – Abaixei a cabeça devagar e continuei terminando meu milkshake, não precisava de mais essa hoje.
Ele não mais falou nada, acredito que para não me incomodar, agradeci mentalmente por isso. Assim que levantei os olhos percebi que Freddie estava sentado sozinho me observando, ele fez um gesto de celular com as mãos e colocou próximo ao rosto, apontando para mim com a outra mão. Estava tentando me mandar algo?! Olívia... esse não é o momento. Não caía na dele, têm uma garota grávida que acabou de entrar por essa porta com esse rapaz e provavelmente logo vai voltar para o seu lado. Pense com a cabeça Olívia, não com os órgãos genitais. Droga, não me contive, olhei meu celular.
Tosco: Nunca me arrependi tanto de algo na minha vida.
Tosco: Você está muito gostosa.
Tosco: Podemos nos encontrar depois, Liv?
Tosco: Relembrar nossa história ;)
— Olívia, que cara é essa? Quem está te mandando mensagens? – Nich perguntou sério, ele já havia terminado de comer e agora apenas observava minhas expressões, parecia preocupado de certa forma.
— Ninguém, acho que foi engano...
— Pode me dá seu celular? Não vai ligar se eu ler já que foi engano, certo? – Ele arqueou as sobrancelhas, nós dois sabíamos que eu havia sido pega na mentira.
Merda, merda, merda. Entreguei o celular ao meu companheiro devagar com receio do que ele me diria. Eu estava sendo estúpida, pensando em responder essas mensagens toscas do escroto do meu ex noivo. Freddie não merecia nem mesmo que eu as lesse, mas lá estava eu. E então, tudo ficou em câmera lenta, o rapaz à minha frente levantou e se dirigiu a mesa em que meu ex estava sentado com sua atual namorada ou sei lá o quê.
— Você está de palhaçada com a minha cara? – Hayes gritou batendo com ambas às mãos na mesa com uma força que nem ele mesmo deveria saber que tinha.
Ferrou.
— Do que você está falando? – Freddie perguntou com a cara mais cínica que já o vi fazer, sorrindo de canto.
Rapidamente Nich pegou pela gola de sua camisa polo e o levantou, ficando o mais próximo dele, cerrando seus punhos e os dentes.
— Você acha que é quem seu merda? Me diz! – Nicholas parecia furioso, seu rosto estava ficando cada vez mais vermelho e tive receio que explodisse uma veia do pescoço dele a qualquer momento.
Peguei nossas coisas e corri até os dois, tentei puxar meu acompanhante mas ele simplesmente não desgrudava de jeito nenhum. A garota grávida parecia estar em choque enquanto segurava a barriga, me compadeci dela assim que vi sua situação deplorável.
— Nich, vamos embora, por favor. – Pedi olhando bem nos olhos do Freddie.
— Da próxima vez que você vier atrás da minha esposa de novo, eu quebro sua cara seu porra. – E então abruptamente jogou o Freddie na cadeira de novo.
Começamos a andar em direção à saída, conseguimos ouvir o meu ex falando antes de realmente sairmos do estabelecimento.
— Não vale a pena, garoto. Ela é uma qualquer. O que ela faz, sei de garotas que fazem melhor.
Congelei no lugar, fechei minhas mãos com força. Não acredito nisso, minhas pernas tremiam de raiva e minha visão se tornou um borrão.