Escrito por Victor Oliveira
Hunters Capítulo 4: Demônios entre nós
— Mas Victor, por que permitimos demônios viverem entre humanos?
— No começo eu questionava também, mas o motivo é que todos os demônios que escapam pro mundo humano se conhecem... Ou são animais do inferno que acabaram vindo parar aqui ao acaso. Usamos demônios fracos como informantes para ajudar em casos, mas tem algumas pessoas que adotam demônios irracionais fracos como bicho de estimação. Eu conheço uma caçadora mocreia que se encaixa nesse caso.
— ... Acho que entendi. — Casos... — Qual a diferença entre casos e missões?
— Casos são mais trabalhados e demorados. Eles tem a finalidade de conseguir provas e informações sobre o quê realmente está acontecendo, basicamente um serviço tático de inteligência. Missões são eventos que estão acontecendo naquele momento e precisam que alguém resolva o problema ou pessoas podem morrer. Esses são os casos de invasões de demônios irracionais fortes ou crimes violentos sendo cometidos por criaturas sobrenaturais. Basicamente missões são problemas que podem ser resolvidos na hora enquanto casos precisam de tempo para serem resolvidos.
— E por que casos precisam de provas para que possamos agir?
— Para evitar correr o risco de negligenciar uma organização grande. Você já viu demônios irracionais rank S, viu como são perigosos. Em casos nós temos de lidar com demônios racionais... E eles são bem mais perigosos do que bestas irracionais, independente do rank individual deles. Não adianta matar um traficante de drogas quando o produto continua sendo produzido e distribuído para outros traficantes, compreendeu o exemplo?
— Entendi... Investigação.
— Issae, agora eu te pergunto, você sabe por que eu te disse tudo isso na primeira aula? Quer chutar?
— Não... Eu não sei. Por que?
— Porque se você quiser sobreviver como caçadora, você tem que saber exatamente o quê nós fazemos. Somos a filial de Tóquio da organização de caçadores do Japão! Nosso dever é proteger as gerações atuais dos erros das gerações passadas. Essa é a missão em comum de todo caçador no planeta.
Não sei explicar o porquê, mas aquelas palavras me inspiraram. Me senti parte de algo realmente grande que fazia o bem pela humanidade. Estou ansiosa para começar.
— Me fala sobre os caçadores. Você contou que quando pessoas adquirem poderes sobrenaturais elas são recrutadas, que poderes seriam esses?
— Eu sei lá. Existem muitos tipos de poderes diferentes e formas de consegui-los. Existem maldições, pactos, bençãos, relíquias sagradas, dons herdados, hereditariedade, etc... Sem contar que por conta disso os caçadores são organizados entre assalto e suporte.
— E qual o seu tipo de poder? Como conseguiu? Por que os caçadores são divididos em assalto e suporte?
— Calma criança! São muitas perguntas em uma frase tão curta...
— E então?
— Eu enganei um demônio fazendo um acordo formal... Basicamente eu fiz um pacto... Sobre o motivo de caçadores serem divididos em assalto e suporte é porquê seres humanos não aguentam a força física de um demônio, então os caçadores que aguentam trocar socos com demônios são denominados caçadores de assalto enquanto que os que tem habilidades de longa distância ou menos úteis em combate direto são caçadores suporte. Óbvio que existem caçadores suportes que aguentam trocar socos com demônios, assim como existem caçadores de assalto que não aguentariam um soco sequer de um demônio...
— ... Sobre o seu pacto... O quê você ganhou?
— ... Um destino de tragédias e perdas...
— ...
— Enfim, vamos indo. Nessa aula você já aprendeu mais do que precisava, então é melhor eu preparar algo prático pra você fazer.
— Falando nisso... Não é meio perigoso falar essas coisas na rua?
— Não... Ninguém presta atenção nos outros durante seu dia a dia agitado para sustentar suas famílias e sonhos... E se escutarem o quê dizemos, apenas vão achar que somos loucos, então nenhum risco.
Caminhamos um bocado enquanto estávamos conversando, logo nos dirigimos de volta para a sede onde nos deparamos com Hiroshi olhando a tela de missões junto de uma mulher ruiva que tinha um demônio pequeno e parecido com um filhote de gato no ombro, acho que era um bicho de estimação como Victor disse mais cedo sobre caçadores que adotam esse tipo de criatura. Pareciam estar procurando uma missão para fazer.
— EI! HIROSHI! O quê essa vagabunda está fazendo aqui? Ela não estava em um caso?
— Também é um prazer te rever, poste tapado!
— Vai se foder, Yuriko, mocreia!
Esses dois com certeza soltam fagulhas de ódio quando estão perto um do outro. Acho importante constar que a média de altura japonesa entre as mulheres é mais ou menos 1,60m enquanto que a dos homens é mais ou menos 1,73m. Victor e Hiroshi tinham 1,80m cada, enquanto Yuriko tinha 1,67m e eu 1,62m... Me sinto tão baixinha perto desses gigantes!
— Calma pessoal! Vic, Yuriko me pediu ajuda no caso dela, achamos que um importante suspeito pode agir a qualquer momento e não queremos perder essa oportunidade. Aliás, como foi sua aula, Miyuki? — Ele me perguntou com uma expressão simpática.
— Muito boa, obrigado por perguntar, Hiroshi. — Retribui com um sorriso.
— Okay, eu vou pra biblioteca. Miyuki, você vem?
— Ah, ok. Até outra hora Hiroshi, é um prazer te conhecer, Yuriko! Peço desculpas por não haver uma apresentação adequada.
— Que nada, lindinha. O prazer é meu. Agora vai antes que aquele tapado faça alguma merda.
— Até depois, Miyuki.
Me despedi e segui meu mentor para a biblioteca. Meu deus, a sede é enorme! Tem de tudo aqui, de refeitório a biblioteca. Agora eu compreendo porquê o Hiroshi apenas dorme no hotel fornecido pela filial e passa o dia inteiro na sede, aqui tem de tudo! Na biblioteca haviam caçadores fazendo pesquisas, estudos e alguns pareciam até estar trabalhando em casos. Victor me guiou a uma mesa e me explicou porquê viemos para a biblioteca.
— Hora de você fazer algo prático. Eu quero um relatório sobre a biologia demoníaca e os principais pontos fracos de demônios. Você tem duas horas.
Ele apoio uma cadeira na parede e se deitou com as pernas encima da mesa me deixando completamente a própria sorte. Quando eu fui perguntar pra ele por onde começar, percebi que o miserável já tinha começado a dormir.
— Vic, seu maldito. Por onde diabos eu começo a pesquisar?!?
Comecei a pegar livros sobre demônios nas prateleiras e comecei a estudar. Tinham muitos tipos de demônios diferentes, cada um com a sua forma de agir e se comportar, assim como sua própria biologia. Era uma matéria muito interessante mas também com bastante conteúdo. Dediquei bastante tempo lendo e estudando aqueles livros enquanto meu mentor dormia no canto. Não tinham livros apenas sobre demônios lá, mas também sobre fantasmas, mitologia, folclore, estratégias de guerrilha, técnicas de combate. Uma verdadeira mina de ouro da literatura diversificada. Quando dei por mim já tinham passado as duas horas e meu mentor acordou.
— E então, garota? O quê você anotou?
— A... Eu passei tanto tempo lendo que me esqueci de fazer anotações. Ahahaha... — comecei a rir de nervoso.
— Sem problemas, agora me diga, qual o melhor ponto para matar um demônio rank S?
— Depende da espécie deles, mas a grande maioria morre se for atingido no coração ou pescoço!
— Resposta Certa. Qual a altura média dos Sealópodes?
— Medindo um comprimento de doze metros eles conseguem chegar a quatro metros de altura!
— Acertou de novo. Qual o demônio comum mais rápido registrado?
— Os demônios popularmente conhecidos como morcego sônico, que atinge a incrível velocidade média de mach 1 a mach 2!
— Certo. Tinham dois cavalos, um azul e o outro foi para a direita, qual o peso da girafa sabendo-se que está nublado e a formiga anda?
— QUÊ?!?
— É brincadeira, você tá aprovada. Fez a lição de casa direitinho.
— Obrigado... Eu... Eu posso continuar lendo aqui?
— Claro! A biblioteca é de livre acesso aos caçadores e você está dispensada. Eu vou tomar um café, se precisar de mim vou estar pela sede.
Ele disse se levantando e me fazendo um leve cafuné por dois segundos até que terminou de falar e foi embora. Acho que consegui a aprovação dele por hoje. Após isso continuei na biblioteca lendo por bastante tempo, até que deu o horário de almoço.
Continua...