- Anna pelo amor de Deus, eu já te falei milhões de vezes para você não deixar seus brinquedos espalhados pelo chão, eu quase furei o meu pé da última vez!
- Desculpa Maya, não queria chatear você, só queria brincar, não deixam mais brincar na escola, agora eu tenho que aprender uma coisa chamada somar. - ughhh, ela tá fazendo aquela carinha com os olhinhos de cachorro abandonado que eu não resisto.- Tudo bem An, só junte, ok? – Ela balança a cabeça ligeiramente em concordância.
- Cadê a mamãe?
- Tá no quarto, quando eu fui dar a ela um abraço de bom dia, ela disse para mim deixar para outro dia, que estava doente... Maya, mamãe vai ficar bem?
Depois de dois meses do divórcio minha mãe ainda está na fase da negação, é claro que terminar um casamento de dezessete anos é uma barra, sem contar que duas semanas depois descobriu que meu pai está formando uma nova família, com uma mulher cinco anos mais velha do que eu, mas ela não está fazendo nada para melhorar, parece que não liga para como eu e An também estamos sendo afetadas, além de me deixar cuidando de tudo sozinha eee mais uma vez eu estou sendo uma egoísta.
- A mamãe vai ficar bem An, todas nós vamos ficar bem! - espero que isso à tenha convencido, porque a mim com certeza, não convenceu. - Vamos, venha logo tomar seu café da manhã ou vamos nos atrasar.
Brihton School, minha escola, ou melhor, o antro dos demônios, não me entenda mal, eu já gostei da minha escola, era meu refúgio quando pequena, eu não faltava um dia sequer, mesmo quando doente, era mil vezes melhor ir estudar do que ficar em casa escutando mamãe e papai brigarem. Mas com o passar do tempo as coisas mudaram, vi a maioria dos meus amigos se tornarem estranhos, vi os mais ricos e influentes tomarem conta da escola, Brihton School é uma típica escola particular, mas temosalunos com bolsa integral, os atletas, que são as “pérolas” da escola, bando de babacas na minha opinião, também tem bolsas para os gênios, que são, bom, eles não saem do laboratório, então fica meio difícil descreve-los, mas o fato é, Brihton School não passa de mais uma escola de riquinhos, e eu sou uma, ou era, meu pai largou a gente a deus dará, minha mãe não sai da cama a dois meses, e não se sabe até quando se estenderá a compreensão do escritório em que trabalha, minha mensalidade e a de An não pode ser chamada de barata, então ou eu viro psicóloga da minha mãe, ou eu arrumo um emprego.
Melhor eu começar a distribuir currículos.
- Ei, olha por onde anda!- mas que porr... fiquei tão submersa nos meus pensamentos que esqueci que estava caminhando por um corredor onde os meninos parecem mais armários antiquados, eee au, meu ombro.
- Fala sério.- murmuro baixinho.
-Desculpa, o que?- olho para cima e ah, qual é, Ethan Daniels, o maior babaca dos babacas, foi o armário antiquado que esbarrou em mim.
- Eu disse, fala sério! Olha o seu tamanho, você deveria andar perto dos armários.- uow, ele tem tipo, a altura de um poste, quer dizer, um poste pequeno, como aqueles onde Gene Kelly se pendura em Cantando na chuva.
- Ou você deveria olhar por onde anda.- agora ele está me olhando feio, se ele quer competição de caretas, talvez ele ganhe uma!
- Ok, que tal se fizermos assim, você saí da minha frente para que eu não me atrase, e eu olharei por onde ando?
- Senhora gentileza... E que tal se fizermos assim, você me pede desculpas por ser uma boçal, e eu te perdoo e seguimos nossos caminhos? – hã, estou rindo agora, Ethan está me olhando com uma cara de confusão.- O que?- pergunta ele enquanto minha risada fica mais intensa.
- É só que, é difícil acreditar que boçal é uma palavra que faz parte do seu vocabulário, achei que vocês atletas batiam as cabeças umas nas outras como uma forma de comunicação.
- Você é extremamente arrogan...- Ei Daniels, vamos logo ou o treinador vai comer nosso traseiro.-grita Jack Willians, que galante.
Ethan olha diretamente para meus olhos, os seus estão intensos, duas poças de um profundo preto piche, e bufa, esbarrando em meu ombro já dolorido ao passar por mim.
- Babaca!
- Boçal!