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FRAGMENTOS

FRAGMENTOS

Elisa adriell


PRÓLOGO

                   Berith 
Eu já estava cansado de esperar por Lilith no restaurante daquela cidade litorânea. Ela me chamou às pressas, mas não apareceu na hora marcada. Eu sentia uma inquietação crescente, como se algo me puxasse para longe dali. Talvez ela tivesse algo importante para me dizer, mas eu não podia perder mais tempo. Eu precisava convencê-la a se juntar a mim na disputa pelo trono do inferno. Como um demônio da segunda geração, eu era apenas um Lorde sem muita influência. Mas com Lilith, a primeira mulher criada por Deus, ao meu lado, eu teria mais poder do que os demônios da primeira geração. A ideia me fez sorrir. Eu olhei em volta e vi que o restaurante ainda estava cheio de gente maltrapilha. Eu me destacava com o meu terno sob medida, que realçava o meu corpo perfeito. Eu atraía os olhares curiosos e desconfiados dos humanos, que não resistiam ao meu charme sobrenatural. Mas eu também percebia a cautela de alguns, que sabiam que havia algo de errado comigo. Quando o garçom veio me atender, eu dei um sorriso sedutor que o deixou corado. Eu não queria comer nada, mas pedi a especialidade do chefe e o melhor vinho, só para me livrar dele. Eu queria ficar sozinho, mas a sensação de urgência não me deixava em paz.
 Eu cedi e me concentrei nela, esperando que me levasse até a fonte do chamado. De repente, eu me teletransportei para um terraço sob a chuva, em algum lugar perto dali. Se eu já estava irritado com o atraso de Lilith, agora eu estava furioso. Eu estava molhado e longe do meu objetivo. Quando eu ia voltar para o restaurante, eu ouvi um gemido fraco, quase abafado pelo barulho da chuva. Eu procurei pelo terraço e vi uma criança na beira do prédio, abraçada a si mesma e com os olhos fechados. Ela estava machucada e suja, mas isso não me interessava. O que me intrigava eram os murmuradores que a atormentavam. Eles eram de Belias, o atual governante do inferno. Por que ele mandaria seus servos para torturar uma criança? Ele não podia ter a sua alma, crianças não iam para o inferno. Então por que os murmuradores a cercavam? Aí citando a se jogar. Ela se equilibrava na borda do edifício, olhando para o abismo que a esperava. Ela pensava que se pulasse, acabaria com o seu sofrimento e escaparia do inferno que a atormentava desde que veio ao mundo.
 Mas ela estava enganada. Aquilo era uma cilada de Belias. Ele tinha algum propósito obscuro para ela, mas eu não fazia ideia de qual fosse. Eu só sabia que não podia deixar que ele a levasse consigo. Eu tinha que salvá-la, mesmo que ela não soubesse disso. Com um movimento rápido e preciso, eu usei a minha magia e calei os sussurros dos murmuradores, os demônios menores que serviam a Belias e que tentavam persuadi-la a se jogar. Eles se contorceram e morreram no chão, mas eu não senti pena deles. Eles não eram nada para mim, apenas obstáculos no meu caminho. O que eu queria mesmo era a garota. Ela tinha algo especial, algo que despertava o interesse de Belias e também o meu. Mas ela não sabia de nada disso, ela era apenas uma criança assustada e solitária. Eu não podia esperar que ela me revelasse os planos de Belias, ela provavelmente nem sabia quem ele era. Eu teria que descobrir por conta própria, usando os meus próprios recursos. Mas para isso, eu precisava tirá-la daqui, antes que Belias percebesse a minha interferência. Ela soltou um suspiro de alívio quando percebeu que os sussurros tinham cessado.
 Ela abriu os olhos e se afastou um pouco da beirada do prédio, mas ainda mantinha a postura de quem estava pronta para pular. Eu senti uma pontada de algo estranho no meu peito, algo que eu nunca tinha experimentado antes. Era como se eu me importasse com ela, como se eu quisesse protegê-la da queda. Mas isso era impossível, eu era um demônio, eu não tinha sentimentos. Eu me aproximei dela lentamente, tentando não assustá-la mais do que ela já estava. Mas ela me viu e se virou para mim, me encarando com os olhos mais belos que eu já vi na minha vida. Eram olhos violetas, sem nenhuma imperfeição, e um rosto angelical, que me fez pensar se ela era um anjo disfarçado. Mas eu logo descartei essa ideia, pois ela não tinha asas nem auréola. Mas ela tinha algo mais, algo que brilhava dentro dela, tão fraco que quase não dava para notar, mas estava lá. Eu me xinguei por ter demorado tanto para perceber o que ela era. Ela era uma nefilim, uma mistura de anjo e humano. Mas o que ela fazia aqui, sem a sua família ou a sua tribo? E por que Belias estava atrás dela? E como ela podia ser tão fraca a ponto de se deixar influenciar pelos murmuradores? Eu tinha muitas perguntas, mas nenhuma resposta.
 Ela me olhava com uma mistura de tristeza e curiosidade, como se quisesse saber quem eu era e o que eu queria com ela. Ela devia sentir a minha natureza demoníaca, mas não parecia ter medo de mim. Isso era estranho, pois os nefilins eram ensinados desde cedo a temer e odiar os demônios. Mas ela não parecia ter aprendido essa lição, pois ainda estava ali, me olhando como se esperasse alguma coisa de mim. Eu me agachei para ficar na altura dela e tentei sorrir, mas ela não retribuiu o gesto. Ela continuava me olhando com aqueles olhos violetas que me hipnotizavam e me faziam lembrar de algo que eu não conseguia identificar. Era como se eu já tivesse visto aqueles olhos antes, em algum lugar ou em alguém. Mas isso era improvável, pois eu vivia há séculos e esquecia das coisas que não me interessavam. Mas aqueles olhos me interessavam, eu nunca os esqueceria. Eles eram a chave para o mistério que envolvia Belias e a garota. - Você está bem? - Eu perguntei, com uma voz suave e gentil. Ela não respondeu imediatamente, mas continuou me olhando com aqueles olhos violetas que me fascinavam. Eu queria saber o que se passava na sua mente, o que ela sentia, o que ela queria. Mas ela não dizia nada, apenas me observava com uma expressão indecifrável.
 - Você não é de falar muito, não é mesmo? - Eu disse, colocando a mão no queixo e olhando para o céu como se estivesse pensando. Depois voltei a olhar para ela, esperando alguma reação. A garotinha não tinha mudado nada na sua expressão, ainda me olhando como se esperasse algo de mim. E por um momento eu poderia jurar que seu olhar tinha mudado de curiosidade para um olhar de esperança. Eu não sabia por que ela estava me olhando assim. - Você é um anjo? - Ela perguntou de repente, me deixando confuso por um momento. Ela pensava que eu poderia ser um anjo? O pensamento de ser um anjo me fez rir. - Já fui chamado de muitas coisas, mas anjo? É a primeira vez. Mas é tão ofensivo quanto qualquer outro adjetivo desagradável que já fui chamado antes. - Eu zombei, achando graça da sua inocência. Ela franziu a testa e não disse nada, ficando calada novamente.
 Eu olhei em volta, procurando por um abrigo. Eu já estava cansado de ficar na chuva, mas não achei nada muito útil. A única coisa ali capaz de oferecer algum abrigo da chuva era a pequena cobertura em cima da porta que dava acesso ao terraço. Agora eu só teria que convencê-la a sair da chuva. - Vamos para aquela cobertura e você pode me dizer por que seu rosto está machucado. - Eu falei, andando em direção à cobertura. - E por que eu iria contar alguma coisa a você? - Ela perguntou, e seu tom era afiado, até mesmo para uma simples meio anjo. Eu olhei para ela e por um momento fugaz percebi que realmente eu queria saber o que tinha acontecido com ela e talvez até ajudar. E isso era novo para mim. - Talvez eu possa te ajudar. - Eu disse, esperando que ela me seguisse. – Ninguém pode me ajudar. Ouvi ela sussurrar atrás de mim, enquanto eu seguia em direção à cobertura. E novamente tive que escutar ela falar baixinho atrás de mim.
 – O que ele é! Ela não sabia o que eu era, e estava curiosa para saber. Quando cheguei à cobertura, ela estava logo atrás de mim. – Por que você não me conta o que aconteceu com seu rosto? – Se eu contar o que aconteceu, isso vai mudar alguma coisa? Acho que não. Ela disse com um tom resignado, que me fez sentir um aperto no peito. Ela tinha perdido a esperança. – Se você me contar o que aconteceu, eu posso tentar te ajudar. Seu rosto não parecia que a estava torturando, talvez ela só estivesse evitando me falar o que aconteceu, mas se eu a curasse, com esse pensamento eu coloquei minha mão em seu rosto ferido, a fazendo se encolher de medo. – Não se preocupe, eu não vou te machucar. Não gostei que ela se afastasse do meu toque, eu não queria feri-la, e o pensamento dela pensar que eu seria capaz disso, me magoou mais do que deveria, eu era um demônio, eu não era bom, e nunca fingi ser, mas mesmo assim não queria que ela tivesse medo de mim. Novamente levei minha mão ao seu rosto, mas dessa vez ela não se afastou do meu toque, deixando que eu a tocasse, mas se contorceu de dor quando passei os dedos em um corte em sua bochecha direita, que já estava inchada e inflamada. – Aguente firme, logo você vai se sentir melhor. Eu falei baixinho e continuei tocando seus ferimentos, os curando um por um, eu estava usando mais magia do que pensei que seria necessário para curar os danos em seu rosto e corpo, seria mais fácil curar seu corpo todo de uma só vez, mas seria muito arriscado para ela, se eu usasse muita magia demoníaca em seu corpo já tão debilitado, eu podia sentir os ferimentos que ela tinha por todo seu corpo, e não sabia como ela não estava chorando de dor, com tantos machucados, por todo seu corpo, ela era forte ou ela já estava acostumada com a dor, o pensamento dela já ter sofrido tanto para se acostumar com isso, fez algo dentro de mim doer profundamente, me fazendo levar a mão ao meu peito como se quisesse aliviar a origem da dor ali, confuso com minha própria reação a tal pensamento tirei rapidamente a mão do peito.
 Terminando rapidamente de curar os machucados dela, sem mais prestar atenção nos meus sentimentos confusos que sentia. Os ignorei nada de bom vinha de sentir demais, demônios não foram feitos para sentir nada, e eu não poderia ser diferente, isso seria visto como fraqueza. E eu não poderia ter nenhuma fraqueza. E essa menina era muito perigosa para mim, será que Belias se sentia da mesma forma. Por isso a queria morta, não poderia ser isso. Eu duvidava que Belias ainda tinha um coração para sentir alguma coisa, não só isso Belias nunca saia do inferno, como ele poderia ter entrado em contato com ela, mesmo se Belias tivesse, ele mesmo a teria matado, nada estava fazendo sentido agora. Eu não poderia matá-la, já estava começando a duvidar que iria conseguir mesmo se eu quisesse fazer isso para me livrar dos sentimentos perturbadores que ela invocava em mim. Eu examinei seu rosto com atenção, buscando algum sinal de dor ou medo, mas não achei nada, apenas seus olhos violetas que me fitavam com curiosidade. – Como você conseguiu fazer isso? Eu não sinto mais nenhuma dor. A menina me questionou, tocando sua pequena mão em sua face agora sem nenhum ferimento. Ela estava maravilhada com o que eu havia feito por ela. – Eu apenas curei suas feridas, agora você pode me dizer o que aconteceu, ou você ainda vai continuar inventando desculpas para não me contar nada. Eu a desafiei com o olhar, esperando que ela se pronunciasse, se iria falar ou não, ela suspirou como se estivesse ponderando o que me revelaria, ela tinha um olhar determinado. – Mamãe foi embora há três anos, e papai me detesta, e me culpa por tudo, às vezes nem sei pelo que estou me desculpando, mas faço mesmo assim para que ele não me puna.
 Ela falou com firmeza, como se não fosse difícil para ela ter dito tudo isso, e a tristeza em sua voz, me deixou mais intrigado, quando ela mencionou que sua mãe tinha ido embora sua tristeza foi mais evidente do que ao falar do quanto ela sofria com seu pai. – Sua mãe faleceu? Eu perguntei, interessado em saber por que isso a entristecia tanto. – Não! Ela não faleceu, ela só partiu, ela só acordou um dia e saiu e nunca mais voltou, ela só foi. Ela deu de ombros como se não se importasse, mas eu podia sentir que isso a feriu muito e ainda feria, mesmo ela tentando disfarçar que não, eu senti uma vontade súbita de abraçá-la para tentar consolá-la, mas me contive de fazer tal coisa sem sentido, eu só poderia estar enlouquecendo com tudo isso, eu tinha que terminar com isso logo ou iria fazer alguma coisa da qual me arrependeria depois, como levá-la para o inferno comigo, só para ter certeza de que ela estaria bem e protegida, mas isso era insanidade eu sabia disso, mas já estava ficando difícil raciocinar com clareza perto dela, será que Berith também sentia que era sua obrigação cuidar dela e protegê-la, penso antes de opta pelo caminho mais sensato no momento, que não envolvia ela ir comigo para o inferno. Estendi minha mão em um convite, ela olhou para minha mão esticada com desconfiança. – Posso te levar para um lugar onde você nunca mais verá seu pai novamente, lá você pode recomeçar sua vida como uma linda borboleta, pode parecer confuso agora, mas você compreenderá tudo quando chegar lá. E você não pode ficar mais aqui, não é seguro para você. Assim como eu vi atrás de você, e o que seu pai faz com você, eles farão pior, mas no lugar para onde vou te levar você estará segura e bem cuidada, e lá eles te explicarão tudo que você precisa saber. Eu esclareci para que ela entendesse e esperava que ela aceitasse, mas ela não se moveu, ela parecia assustada, eu detestava que minhas palavras a tivessem assustado, mas eu não conseguia ser cuidadoso com minhas palavras agora, eu estava ficando muito nervoso, nós já estávamos ali há muito tempo. E isso não era bom, eu era muito cauteloso em minhas saídas do inferno, sempre havia algum demônio de olho em mim. – O que você vai querer em troca? Ela me surpreendeu com sua pergunta, ela compreendia que não seria de graça, ela sabia que ficaria me devendo pelo que eu estava fazendo por ela. E eu voltaria para cobrar sua dívida.
 – Não será agora, mas um dia eu voltarei para receber o que me é devido. Eu disse com um sorriso animado, mas ela não retribuiu o sorriso, mas segurou minha mão em vez disso selando o acordo.

Book Comment (610)

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    JuvencioRenata

    estou adorando a história

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    CarlaLorenna

    toop

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    Ketellyn Mourao

    bomm

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