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Prólogo 2


Hadiya
Ah! Eu não contei, não é? De vez em quando ele me ensina algumas letras do alfabeto, é assim que ele chama, para que eu aprenda a escrever tudo em um papel, mas isso só acontece, quando ele finge que está doente para não ir à aula e ficar comigo, ou durante a noite, quando ele espera todos irem dormir para ficar comigo no meu quarto.
Ele fica aqui, contando histórias que eu nunca ouvi falar, de um tal de Peter Pan... nem sei quem é, só sei que gosto muito da história e a gente conversa muito.
Todos os dias, ele vem para meu quarto, fazer carinho no meu cabelo, é tão bom quando estou com meu melhor e único amigo.
Às vezes Kevin não sai para passear a fim de ficar comigo, para me ensinar as coisas que ele aprende na escola. Até que estou aprendendo um pouquinho, ele é meu anjo da guarda, sempre me ajudando. Gosto dele e vai ser o único de quem sentirei saudade.
Queria ele sempre comigo, pois quando estou com ele sou tão feliz. Sinto que meu coração está cheio de borboletas, não sei a razão de serem borboletas, mas uma vez, quando estava na minha casa, ouvi da TV da vizinha, uma moça falando:
— Ah! Quando estou com ele, meu coração parece cheio de borboletas! Porém as borboletas são lindas e podem voar, deve ser por isso que meu coração fica assim quando estou perto de Kevin. Quando eu sair dessa casa, que mais parece uma prisão, vou morrer de saudade do meu único amigo.
— Hadiya, não se importe nunca com o que os outros falam de você, pois você é muito especial para mim e para a sua família também. — Ele diz. — Não deixe ninguém te humilhar, nunca! Ano que vem eu terei que te deixar, pois meus pais vão me mandar para estudar em outro lugar.
— Não! Você não pode me deixar aqui sozinha, Kevin! Por favor! — falei enquanto as lágrimas desciam por meu rosto.
Sempre tenho Kevin ao meu lado e ia perder meu único amigo, aquele que me ensinou a escrever meu nome e que me protege, eu sempre me sinto segura e muito feliz ao seu lado, inclusive me ensinou a escrever o seu nome.
— Não se preocupe vai ficar tudo bem! Você vai ver. — Kevin me falava enquanto me abraçava.
Só não sei como alguma coisa vai ficar bem, se meu único amigo vai embora!
Vai me deixar nessa casa, sozinha, sem ele para me alegrar e me proteger.
Eu rezava para que o ano não passasse tão rápido, assim ele me ensinaria mais coisas e eu ficaria com ele. Ele é tão lindo, com sua pele clara, cabelos vermelhos e olhos esverdeados, que dizer eu acho que é esverdeado..., Pois ainda não sei nada de cores.
Infelizmente, da maneira que eu não queria, o ano passou voando...
Eu fiz doze anos tem uns seis meses, Kevin comprou um bolinho escondido, colocou uma vela e cantou parabéns para mim.
Eu amo o Kevin!!!
Não sei ao certo o que é o amor, mas deve ser o que sinto por ele. É tão bom estar com ele, mas agora ele vai me deixar.
Os pais dele fizeram uma festa de catorze anos para ele, queria tanto estar ao seu lado nessa festa, mas quando a festa acabou e todos dormiram, meu lindo amigo veio e me trouxe tudo que teve na festa.
— Feliz aniversário Kevin! — falei. — Eu nunca, em toda a minha vida vou te esquecer! Eu amo você! — acabei chorando de novo, estava muito emocionada.
— Por favor, não fique triste! Eu vou voltar todo ano, prometo! Venho aqui só para te ver! — Ele falava para me confortar. — Não quero que você fique triste, nunca! Não chora, por favor! — Kevin me abraçou e me beijou no rosto. Até hoje eu não sei o motivo de ele ser tão bom comigo, com ele me sentia protegida e amada.
A hora do meu amigo partir, infelizmente chegou e eu nem pude me despedir dele, me deixaram trancada dentro da casa outra vez.
Era sempre assim, se tivesse gente na casa, eu tinha que ficar trancada, não podia aparecer de jeito nenhum, eles me batiam se eu aparecia, mas eu nem chorava mais e eles acabavam ficando mais bravos ainda, por eu não chorar com as reguadas que davam em minhas mãos, que ficavam ardidas e muito vermelhas.
Eu pensava sempre em Kevin e a forma que ele me tratava, daí não chorava, ele tinha falado que eu não deveria chorar e assim o fiz. Uma pena ele não ter vindo me ver antes de ir embora, não sei o que houve, mas tentei não ficar triste, pois nossa despedida já tinha acontecido e eu tinha certeza de que ele viria me visitar no próximo ano.
Com o passar do tempo, acabei pensando que ele não gostava de mim como falava.
Ninguém gosta de mim, a não ser minha mãe e meus irmãos!!!
Só que também penso que eles não gostam mais como antes, pois eles sumiram. Não sei onde está minha mãe, ela não veio me buscar, nem meus irmãos.
Estou tão preocupada com eles!!
Será que nunca mais vou os ver?
Ainda bem que eu sei andar sozinha por aí e posso ir até a minha casa. Acredito que dê para ir a pé, pois não tenho dinheiro. Aliás, nunca peguei em dinheiro na minha vida. Contudo, preciso ir ver minha mãe e meus irmãos. Isso se eu conseguir chegar lá.
12 anos antes...
Estou agora com quatorze anos e Maithê me entregou uma carta, ela é a empregada boazinha da casa, ainda não falei dela, mas ela é ótima comigo, até falou que queria que eu fosse sua filha, que quando se aposentar vai me levar para morar em sua casa.
Ah, como eu queria muito isso!
— Minha filha, o menino Kevin deixou para você.
— Mas, eu não sei ler. Maithê quem vai ler para mim?
— Minha filha, ele pediu para te falar, que ele não quer que você a abra enquanto não aprender a ler e escrever muito bem e realizar o seu sonho. Que é para o desculpar, pois, os pais o proibiram de te ver.
— Mas Maithê, como os pais dele sabiam que ele vinha ao meu quarto? — Perguntei.
— Eles descobriram minha filha, mas, fica calma, eles não vão te bater mais. O Kevin pediu e eles podem ser ruins, mas respeitam o filho. Ele só foi para esse lugar para se afastar de você, os pais não gostavam de vê-lo com você e é por isso também que Carina e Micaela não conversam com você, os pais não deixam.
— Maithê conta.
O que vai ser de mim nesta casa, eu não preciso mais estar aqui, as meninas já estão grandes. Vou fugir pela janela e ver se encontro Kevin, ele foi para onde? Eu não posso, pois, a janela é muito alta, mas eu pularia mesmo assim, só para encontrar meu amigo, o único amigo que eu tinha na minha vida.
— Vou encontrar meu amigo, Maithê! — Falei.
— Não fala bobagem criança, ele foi para outro país. Muito longe meu amor, agora pare de chorar, vou fazer o almoço e daqui a pouco eu trago o seu. — Ela fala e vai para cozinha.
Maithê é uma mulher bonita, com os olhos mais bonito que eu já vi na vida, aliás os mais bonitos eram de Kevin, mas ele não está mais aqui e o de Maithê parece uma piscina, eu nunca entrei em uma piscina, porém sei como é uma, porque meu amigo me mostrou no celular dele uma foto.
É esse mesmo o nome que ele falou, naquele troço que se chama celular, eu vi como era uma piscina pela primeira vez e era igualzinho aos olhos de Maithê, lindos!
Sabe eu nem vejo mais esse povo, todos os dias eu olho para carta do meu amigo e penso quando será que vou aprender ler e saber o que ele escreveu, estou aqui com tanta saudade dele que meu coração parece que vai sair do peito.
O povo me mandou embora, falaram que já estava na hora de ter a minha liberdade, falaram também que não tinham mais que sustentar uma negra, que não tem bosta no cu para cagar.
Não sei por que eles falaram que eu não tinha bosta no cu para cagar, se todos os dias eu faço cocô, minha mãe falou que eu tenho que falar cocô e não cagar. Povo maluco, não ter bosta no cu para cagar, só se for eles que não tem, porque eu tenho e muita.
— Os patrões falaram que você vai embora, pode deixar as roupas aí. — A nova empregada diz se referindo as três peças de roupas, que eu tenho para vestir. — Vou dar para outra moça que vem para cá.
Tenho até pena dessa outra moça, só espero que não seja uma criança, pois eu hoje sei que lugar de criança é na escola e não trabalhando. Eu sempre soube na verdade, mas não podia obrigar esse povo que só sabe maltratar, me colocar na escola.
— Mas eu vou vestir o quê? — Perguntei.
— Nada, vai com a roupa que você entrou aqui sua morta de fome. — A patroa gritou.
Eu estava chorando sem saber para onde ir, Maithê vem até meu quarto, me dá uma chave e dinheiro, como nunca peguei em dinheiro, fiquei toda boba com isso e me entrega também um papel com um endereço.
Me explica o número do ônibus que tenho que pegar e que tenho que ir até o ponto final e assim que descesse do ônibus que eu teria que pedir para alguém explicar como chegar no endereço escrito no papel, pois não sei ler.
Saio da casa onde sofri por anos, estava era feliz por agora ter minha sonhada liberdade e triste porque Kevin não estava aqui.
Olhei o número do ônibus após estar no ponto e quando o ônibus correto chegou, eu entrei procurando um lugar para me sentar e fiquei pensando, agora que estou livre daquele povo, vou estudar e ainda fazer faculdade um dia, nem que eu esteja velha, mas vou fazer faculdade.
Chego no ponto final, como Maithê mandou, mostro o endereço ao motorista de ônibus e ele me fala que direção tomar. Ando um pouco e chego ao número indicado no papel, era uma casa bonita, abro a porta, entrando em seguida.
A Maithê é rica?

Book Comment (1876)

  • avatar
    NunesSamantha

    Amei a história! Muito boa!

    22/07

      0
  • avatar
    santos correanathaly

    Ótimo

    21/07

      0
  • avatar
    Kauan Pietro

    muito bom

    20/07

      0
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