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Chapter 5 continua capítulo um

Parte 5
Talvez não. Ou talvez quem sabe, eles aparecessem só pra ter certeza de que estava mesmo morto.
Apesar dessas lembranças, abriu um sorriso sincero ao relembrar sua última conversa com um dos sócios. Teve uma conversa séria e demorada com ele. O avisou que estava decidido a vender tudo o que tinha depois que se sentisse melhor.
Queria se afastar para repensar melhor a vida para tentar melhorar sua saúde que ficara abalada com o acidente e sua mente que estava contaminada com a vida cotidiana e sua correria. Precisava parar.
— Está seguro disso? - Rômulo estava sentado no sofá confortável e grande de frente pra ele e o olhava com cara incrédula.
— Total. Já pensei muito - se ajeitou na cadeira de rodas e engoliu os comprimidos para dor.
— Você bateu forte a cabeça, não foi?
— Bati, mas não foi por causa disso que repensei minha vida - riu e esfregou o rosto, passando a mão pela marca da cicatriz — Eu só estou cansado e repensar a vida é natural.
— Sim, eu sei disso e entendo. Mas tire férias então. Passe um tempo longe dos negócios. Não tem que fazer isso agora - gesticulou — É uma loucura - ele franziu o cenho.
— Não é loucura Rômulo - balançou a cabeça — Um homem tem o direito de repensar seu comportamento e mudar de vida, não tem?
— Sim, claro que tem, mas não depois de um acidente grave que quase o matou - se inclinou pra frente — Você não está se consultando com um terapeuta? Isso ajuda muito.
— E porque eu preciso de um? - deu de ombro — Eu não estou louco, apenas quero mudar meu rumo - pausou um instante — Rômulo, eu vou fazer trinta e seis anos - suspirou — E não tenho uma família, amigos... Nem mesmo um cachorro. Ninguém se importa comigo.
Rômulo revirou os olhos fazendo careta.
— Se a questão for essa, é fácil de resolver. Eu posso te comprar um cachorro agora mesmo. Até um gato, assim você tem os dois - abanou a mão no ar — E mulher você arranja fácil. Viva com ela, curta um bom sexo e depois tenha um filho - bateu as mãos — Pronto! Aí está. Uma família completa. É só isso?
— Não é desse jeito - balançou a cabeça — Você não quer me entender. Eu realmente preciso de uma mudança, eu sinto isso dentro de mim. É algo forte.
— Dentro de você só tem um monte de porcarias que bebe e come e agora esses remédios, que estão subindo pra sua cabeça e te deixando dopado e alucinado. Você não pode vender tudo!
— Não fique nervoso. Eu sei que a decisão parece ser de última hora, mas é o melhor. Acredite em mim - afirmou.
— Ok... E que diabos você vai fazer? Já pensou bem nisso? Em uma semana você vai estar de saco cheio, agoniado, entediado até os ossos e vai se arrepender.
— É, pode ser que sim - riu — Mas eu não preciso me preocupar com isso agora, não é?. Uma coisa que não vou ter é problemas com dinheiro - deu de ombros. — Sempre fui organizado e soube investir. Eu tenho dinheiro pra gastar o quanto quiser pro resto de minha vida. Quando, e se eu me enjoar do que estiver fazendo, eu faço algo de novo. Não tenho que me preocupar.
— E por que diabos você tem que se mudar?
— Porque me cansei daqui - abriu os braços — Eu quero me afastar de tudo o que eu já conheço e vivi aqui. Não me sinto mais confortável por aqui. E não vou me desfazer dos imóveis todos, só de algumas filias das empresas. Não quero mais esquentar a cabeça com papelada e burocracia – balançou a mão — Ficar dias até tarde trancado no escritório, lendo e-mails, recebendo chamadas, viagens de negócios o ano todo – suspirou — Eu estou cansado, Rômulo. Tinha dias que eu nem sabia o nome do lugar onde estava dormindo.
Rômulo ficou espantado e surpreso com essa novidade. Era muito sério o passo que Gustavo queria dar. Jogar tudo pro alto e virar do avesso a vida, de uma hora para outra... Nem todos podem ou têm coragem pra isso.
— Sei que é algo estranho de ouvir, ainda mais vindo de mim, que sempre fui focado nos negócios, mas essa experiência de quase morrer, ficar um tempo preso em uma cama de hospital e ver como as pessoas me vêm e são com relação a mim, me fez mudar - suspirou pesado, olhando para o chão — E ficar preso nessa cadeira de rodas é ainda mais complicado. Eu pensei muito, tive tempo pra isso. Tenho certeza de que isso é o certo pra minha vida. Recomeçar.
Gustavo sabia bem que Rômulo não estava mesmo interessado em sua felicidade pessoal, em sua paz de espírito e sim na dele.
Durante o tempo no hospital ele só apareceu quatro vezes e ainda assim para resolver problemas da empresa, carregando uma pasta de documentos pra que ele lesse e assinasse tudo.
— Estou seguro de que você, junto com os outros sócios, vão dar continuidade aos negócios sem problema maior. São muito eficientes.
E já no dia seguinte á essa conversa com Rômulo, ele colocou tudo á venda e foi uma surpresa ver que tão rápido como cogitou, os abutres do mundo financeiro correram para aproveitar a grande oportunidade, ainda que um pouco desconfiados do real motivo dele para fazer tal coisa. Poucos souberam da gravidade de seu acidente.
Alguns mais desconfiados não acreditaram no início, até por não saberem detalhes do ocorrido e dessa decisão, mas depois o boato se espalhou e as empresas foram vendidas e com lucro, a maioria para os sócios mesmo e poucos de fora. E isso foi melhor ainda. Eles dariam continuidade ao que ele iniciara e sua conta estava mais gorda e abarrotada. Isso o deixava mais confortável para recomeçar.
Achou por bem vender alguns imóveis também. Ficou apenas com sua casa principal, um apartamento mais antigo que foi logo do início de sua busca por sucesso no negócio e um chalé nas montanhas. Estes eram seus lugares preferidos.
Deixou com uma excelente imobiliária a responsabilidade de vender seus terrenos e também ficou com apenas três carros. A Mercedez, um Porsche e a Ferrari preta que era sua favorita. Para coisas mais pesadas, ficou com uma pick-up. Não iria precisar dos outros.
E a bem da vontade, pouco os usava por causa de seu tempo que era mais dedicado ao trabalho. Outras pessoas iriam aproveitar mais.
Se ele queria mudar de vida, então a maioria das coisas que ele tinha antes, quando pensava diferente, não seriam mais necessárias e também não as daria de mão beijada a ninguém.
Não tinha sido fácil conseguir o que juntou durante os anos. Nada na sua vida tinha vindo com facilidade. Não seria tonto ou hipócrita de apenas doar.
Na verdade ele ralou muito. Não tinha caído do céu. Não era um filhinho de papai mimado. O que tinha hoje, se pouco ou muito, era tudo responsabilidade e mérito próprio.
Não deixava que ninguém desmerecesse seu esforço ou dissesse o contrário. Tinha orgulho de tudo o que conquistou.
Infelizmente ele sabia bem como as pessoas têm uma mania ridícula e preconceituosa de julgar um rico apenas por sua aparência e por ter muito dinheiro á disposição, porém são poucas as que procuram saber como a pessoa chegou até esse ponto da vida.
Claro que muitos são um bando de espertos, abusivos e abutres, mas tem uma grande parte que faz o certo e é ativo na sociedade, ajudando e muito.
Não se pode julgar todos por alguns. Não é dessa forma que a vida é. Cada pessoa tem seu mérito próprio. Tem que se analisar. E ele era um dos que fazia parte dos que enriqueceram por esforço próprio, da forma correta e nunca pegou um centavo de ninguém.
Uma coisa que o incomodava e até ficava com raiva, era quando sentia o preconceito de outra pessoa, sem nem mesmo o conhecer de fato, apenas por ser rico, sem nem saber como ele conseguiu chegar a esse feito.
Ele tinha tido sua história triste também. Tinha sofrido.
Autora Ninha Cardoso

Book Comment (3293)

  • avatar
    Tiago Lucas

    amei❤️

    3h

      0
  • avatar
    Raissa

    aplicativo legal

    1d

      0
  • avatar
    RrtBleke

    ótima

    6d

      0
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