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Capítulo 7 Sete

Afundei meu corpo na banheira tentando afastar a ansiedade que corroía minha alma. A sensação dos dedos esguios de Finn em meu queixo ainda era recente demais. Procurei por Kai assim que me vesti, novamente um vestido, porém dessa vez sem cortes fundos pelo tecido. Era um simples rosa-claro, minha cor se estendendo pelo meu corpo. Encontrei meu irmão gêmeo parado ao lado da pilastra do salão de festas, observando o trabalho de Vladmir tomar forma. Assim que me viu, me ofereceu o braço, e me conduziu até o jardim do castelo. Deslizávamos pela grama fina quase pausada pela estação. Seus pés firmes permitiam que eu não sentisse sequer insegurança ao deslizar pelo orvalho escorregadio caído no mármore da pequena fileira de estrada que se estendia ao redor dos jardins. Kai parou de frente para um canteiro de flores azuis, passando suas mãos firmes pelas pétalas delicadas. Quando se virou para mim, seus olhos desceram até minhas mãos enroladas na frente do meu ventre. Então ele estendeu o dedo anelar e tocou minha testa, com o máximo de cuidado que pude prever.
— Ontem Finn e eu conversamos. — comecei — Ele basicamente disse que poderia cancelar nosso casamento, mas não quer. Aparentemente os pais deles são ainda mais compreensivos que o nosso.
Eu não sabia se aquilo soava como uma piada para mim, mas Kai sorriu, puxando uma das flores para si.
— Você não vê agora Kalishta, mas essa união é muito importante pro nosso reino. Foi errada a forma que papai usou para te contar, e entendo que esteja com raiva, mas para pra pensar nos benefícios que vamos ter.
Kai encaixou a flor que segurava na minha orelha, depois me olhou como se eu fosse uma criancinha precisando de uma explicação.
— Os exércitos de Bulhart são poderosos, uma união entre o gelo e o fogo é a mais forte das combinações. E fora que nascemos com um trono ao redor, isso significa que todos deveríamos estar preparados para casar por interesse do rei. Cedo ou tarde você ia ter que se submeter a um nobre ou um príncipe.
— Eu gostaria de ter chance de escolha.
Bufei. Tirei os sapatos para sentir a grama úmida entre meus dedos, Kai me observando de longe. Me permiti um suspiro, absorvendo suas palavras maduras.
— E o que escolheria? Um camponês caçador?
Meus joelhos vacilaram. Kai sabia sobre Barduc, apesar de apenas Owen ser meu confidente em relação a isso. Uma princesa não podia ser vista caçando com um camponês qualquer, muito menos aos beijos no meio de uma caça com esse camponês qualquer. Juntei as mãos e tentei respirar fundo. Meu irmão nunca me entregaria para o meu pai. Ele apenas jogou a informação que possuía na minha cara e se virou para voltar ao palácio. Eu permaneci nos jardins até a hora do almoço, matutando sobre as frases de Kai. Ele estava certo, esse "castigo" traria paz e segurança para nossa nação, estabilidade e tranquilidade. Que tipo de rainha eu seria se colocasse minhas necessidades acima das do meu povo?
O Almoço foi pacífico. Apesar de não me importar em calçar os sapatos de volta quando me arrastei até meu lugar na mesa, a realeza fingiu não reparar nos rastros de terra que deixei no tapete bege por onde passei.  Assuntos sérios e importantes foram discutidos pelo rei Deméter (de Bulhart) e meu pai. Sustentei assuntos baixinho durante o jantar, evitando atrapalhar a conversa dos Reis, mas ainda sim implicando com meus irmãos.
— Já te falaram que você é insuportável?
— Como essa coisinha pode ser nossa irmã?
— Cenourinha podre essa.
Os comentários poderiam até soar como rudes se não viesse acompanhados de sorrisos brincalhões. E eu conhecia meus irmãos... provocação era meio que uma regra entre nós. Menos para Owen, todos nós evitávamos provocá-lo. As provocações que Kai cuspia para meus irmãos longe dos ouvidos do rei eram mais sujas do que eu me permitia repetir. Mas Zander se contentava em me lembrar do meu tamanho reduzido a cada vez que sentia necessidade de me provocar. O príncipe Finn ao meu lado, apenas comia e observava a algazarra ao seu redor. Não parecia assustado, estava mais pra fascinado. Em determinado momento ele apoiou o queixo em uma das mãos para se concentrar nos detalhes das conversa. Até que Zander resolveu o incluir.
— Príncipe Finn, as mulheres do seu reino são tão baixinhas quanto as de Kibtaysh?
Engasguei com o vinho, provocando uma risada alta de Kai, mas o príncipe mal se mexeu no lugar. Típico de Zander perguntar sobre mulheres.
— As media de altura em Bulhart é de cento e setenta centímetros para mulheres.
Subitamente reparei que o príncipe era realmente bem alto. Arlo era o mais alto dos meus irmãos, com cerca de cento e oitenta e cinco centímetros, mas o príncipe o passava em altura.
— Há! Kali vai se sentir uma anã em uma terra assim! Cento e cinquenta e três centímetros é tudo o que ela tem!
Zander parecia bastante alterado com o vinho. Estava provavelmente na sexta taça quando as besteiras começaram a voar de sua boca. Eu me encolhi no banco quando percebi que tínhamos a atenção do rei e dos nobres, mas Zander não pareceu se incomodar.
— Não acha pai? Você a mandou para uma terra de gigantes! HAHAHA, como será sua primeira vez com um gigante?
Sangue subiu para as minhas bochechas. Vi o rosto de meu pai se tornar carmesim enquanto rugia ordens para que os guardas arrastassem meu irmão para fora do recinto. Ele foi arrastado cambaleante, ainda proferindo palavras de escárnio e insulto. Assim que se retirou, senti meu corpo travar na poltrona mais uma vez. Droga. Tentei me mover mas nada aconteceu.
Desde a morte da minha mãe, quando me encontro em situações de pânico meu corpo para. Ele simplesmente passa a desobedecer os comandos da minha mente, simplesmente ignora minha vontade e necessidade de fugir. Como na vez em que eu não consegui segurar as chamas e elas se espalharam pela floresta Oeste. Como na noite anterior, que a noticia de meu casamento fez meu mundo girar, e meu corpo travar. Como no dia em que minha mãe foi assassinada, e um guarda teve de me arrastar para que eu saísse do lugar. Como agora. Mas a única pessoa que sabia sobre esse meu problema, era Zander, que havia sido arrastado para longe. Minha cabeça começou a girar a milhão, lágrimas brotaram dos meus olhos. Meus irmãos pensaram que eu só estava triste, mas não, eu estava em desespero porque aquela sensação havia me dominado de novo. Fechei os olhos e só abri quando os braços firmes que me envolveram terminaram de me conduzir. Não havia reparado no momento em que ele me levantou da cadeira, ou quando nós passou pelos guardas, só assimilei que naquele momento eu estava ali no jardim, de pé em frente ao meu noivo.

Comentário do Livro (950)

  • avatar
    PereiraJosilene

    ....................,.........,......................

    14h

      0
  • avatar
    BatistaJoana

    ótimo livro

    3d

      0
  • avatar
    Breno Sales

    muito bom 😃

    6d

      0
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