Semana passada, eu estava tão animada para essa viagem com a Alex. Mas hoje, eu estou ansiosa porque preciso decidir o que cursar na faculdade depois das férias. Minha mãe sempre dizia que ao descobrir coisas novas nós também descobrimos mais de nós mesmos. Então eu espero muito que essa viagem me ajude com o meu autoconhecimento.
- Katie!! - ouço Alex me chamando lá do banheiro. Tomara que não seja para reclamar que gastei todo o seu shampoo.
- Oi Alex! - berro em resposta. Estou arrumando minha mala e não quero ir até o banheiro.
Alex desliga o chuveiro e volta ao quarto, com uma toalha no cabelo e outra no corpo. Alex é do tipo de pessoa que achamos que não precisamos até conhecê-la. Nós nos conhecemos no ensino médio, quando ela discutiu com uma menina que estava implicando comigo. Depois disso ficamos inseparáveis, resolvemos morar juntas quando minha mãe morreu, ela já morava sozinha nessa época e como eu não tinha mais ninguém eu aceitei. Quer dizer, eu tenho pai, mas ele nunca me procurou, e tenho tios e tias, que só vi no enterro da minha mãe e nunca mais. Mas isso não me dói mais.
- Então Katie, esqueci de avisar, mas comprei nossas passagens separadas e provavelmente vamos em assentos diferentes, desculpa. - ela me diz, baixando os olhos e mordendo o lábio.
- Na nossa próxima viagem eu compro as passagens, sua doidinha. - digo, dando um abraço nela.
- Pode deixar. - ela diz, com um sorriso.
A viagem para Veneza era um escape da realidade. Eu não estava pronta para encará-la ainda.
- Só espero que se tiver alguém sentado comigo, seja gentil, porque se não for, você me paga. - digo, jogando um travesseiro nela.
........
Depois de chegarmos ao aeroporto, fazemos nosso check-in e esperamos o horário do nosso avião. 10 minutos depois nossa viagem é anunciada no telão.
- Trouxe algo para passar o tempo? - Alex pergunta.
- Sim, um remédio. Que vai me fazer dormir nessa linda viagem. - digo, tentando parecer séria.
- Sério Katie, você tem que aproveitar a viagem desde já, então sem remédios. Por favor, eu tenho quase certeza que o avião não cai. - ela diz, rindo.
Alex tem razão, vou aproveitar essa viagem e vou aproveitar a partir de agora. Pego a mão da Alex e saio correndo e grito:
- PARTIU VENEZAAAAAA!!!!!!
....
- É assim que se faz, garota. - Disse Alex quando estávamos entrando no avião.
- O meu assento é o 32, vou procurar e rezar para que não seja um velho tarado. - Disse para Alex enquanto ela se aconchegava no seu assento, ao lado de uma senhora que com certeza só acordaria quando o avião pousasse.
Assento 32, assento 32, assento 32... Ali! Achei.
- Olá. - Disse para um rapaz que estava no mesmo assento que eu. Ele parecia ocupado lendo um livro que, ao meu ver, era de culinária. Mas eu não queria parecer mal-educada.
- Falou comigo? - Disse ele, saindo do foco que parecia estar.
- Ah, não foi nada, só dei um olá mesmo. - Disse enquanto colocava minha mochila no compartimento acima.
- Ah, oi. - Disse ele voltando a atenção para o seu livro seja lá do que for.
Sentei no meu lugar e mandei uma mensagem para Alex.
Eu: No meu assento tem um carinha, ele parece que não está muito a fim de conversar, então está ótimo. Acho que ele pode ser gentil ficando do jeito que está.
Alex: Ufa! Menos mal para mim.
Eu: Você tem sorte.
Tirei a atenção do celular quando o cara do lado resolveu falar comigo.
- Então, você poderia por favor afastar um pouco para o lado? Seu ombro está tocando no meu e isso me incomoda um pouco. - Disse ele, com um tom de voz irritado.
- Desculpa, quer que afaste mais alguma coisa? - Disse tentando parecer o mais irônica possível.
- Não, só isso está ótimo. - Disse ele com um sorriso falso.
Ele não era feio, longe disso, mas ele parecia ser tão arrogante que sua beleza meio que sumia. Mas talvez ele não fosse, né? Eu podia estar sendo um pouco precipitada demais, vou arriscar.
- O que você está lendo? - Disse parecendo interessada.
- Um livro de culinária. - Disse ele.
Ah, imaginei pela capa. - Gosta de cozinhar? Aposto que vai aproveitar as delícias de Veneza. - Disse com um sorriso torto.
- Sim, gosto. - Acrescentou ele, sem querer prolongar a conversa.
- Entendi, então... - Parei de falar quando ele me interrompeu.
- Olha, não precisamos fazer isso. Eu não quero conversar. Então que tal a gente ficar quieto esperando a viagem acabar?
Arqueei a sobrancelha e então respondi:
- Nossa, muito obrigada por falar isso. Não gosto de fingir ser simpática quando o que eu realmente quero é ouvir música. - Falei, pegando meus fones.
- Ótimo. - Ele disse.
O resto da viagem foi tranquilo. Tirei a conclusão de que o carinha era mesmo arrogante e que ele foi super gentil ficando calado.