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Bab 7 .

Em outra vida, essa garota poderia ter sido uma deusa. Não só pela voz perfeita, e pelo canto certeiro, mas pela graciosidade do mistério. Não dava pra ver de onde vinha a voz, ela preenchia tudo ao meu redor. Tocava cada centímetro do meu corpo, como se existisse em todas as direções. Não pisei abrir os olhos, com medo de que fosse minha imaginação, e que se eu os abrisse poderia acabar com tudo aquilo. Minha mente estava calma e limpa, sem prestar atenção em nada além daquela voz. Eu poderia escutar isso, só isso pro resto da vida.
Mas acabou.
Como o cortar de uma corda, a voz sumiu e eu abri os olhos, quase como acordar de um pesadelo. Demorei alguns segundos para entender quem eu era e o que estava fazendo ali. Foi o tempo que levou para que eu me levantasse do chão, enquanto ouvia passos novamente. Eram da garota? Meu coração se acelerou. Será que eu a encontraria finalmente? Um cabelo negro surgiu da curva do corredor, e então uma saia de bolinhas... era Kayori. Ela deve ter visto a decepção em meus olhos, porque franziu as sobrancelhas.
— Não encontrou a voz certa?
Com passos lentos ela caminhou até mim, o cabelo e a saia oscilando a cada passo. Tentei não parecer amargurando, olhando para o chão com o máximo de tristeza que consegui esconder.
— Acho que deve ser coisa da minha mente
Levei a mão até a maçaneta e a girei, a porta sem trança abriu automaticamente. Convidei Kayori para entrar, e então nos sentamos na cama dura, um ao lado do outro.
— Eu sei o que minha irmã diria. — Eu não conseguia parar de falar. Não sei se era o clima da festa, ou a voz que ainda me influenciava, mas não pude parar de soltar meus pensamentos.— Ela seria doce como sempre. Ela sorriria e se ofereceria pra ajudar, com certeza iria revirar absolutamente toda a escola atrás da garota. Eu... eu sinto muito por ter magoado tanto ela. Então por que não consigo simplesmente concertar? Não posso. Sinto que se permitir a relação entre Antoni e ela, vou estar cedendo meu melhor amigo. E não quero perder nenhum dos dois, mas sinto que já estou perdendo ela. Será que vou ter que escolher?
Kayori passou os braços ao meu redor. Ela me apertou forte e me apoiou enquanto as lágrimas escorriam por minhas bochechas. Patético, eu era patético. Hipnotizado por uma garota, uma voz cuja a dona eu nem sequer conhecia. Agora eu estremecia em braços finos que me apertavam, soluçando com um choro que eu nunca havia mostrado a ninguém. Kayori começou a acariciar meus cabelos, os dedos finos penetrando levemente pelos fios espessos de castanho. Eu amava como aquela parte de mim era igual a de Margarett.
— Eu devo ligar pra ela?
Me afastei o suficiente para ver seu rosto, a preocupação estampada ali. O que diabos eu estava fazendo? A expressão de Kayori se suavizou.
— Eu acho que você só deve ligar pra ela quando finalmente entender seu coração. Você fez mal pra sua irmã, tudo bem, acontece. Só trabalhe nisso pra que não volte a acontecer. Pelo bem dela, trabalhe nisso de verdade.
Meus olhos caíram para o chão. Kayori estava certa. Eu não podia reatar tudo, se no fundo sabia que a qualquer momento poderia explodir de novo. Esse era o sacrifício que um irmão mais velho devia fazer.
— Mas eu posso te ajudar a achar a garota.
Meu coração se ascendeu.
— Meu irmão trabalha aqui, pode pedir um tipo de teste de voz ou algo assim. Mas vai levar algum tempo.
Concordei com a cabeça, esperançoso por qualquer coisa na qual eu pudesse me agarrar, nem que fosse um curto fio de esperança.
Depois que Kayori e eu terminarmos de conversar — algumas horas mais tarde —, ela se foi para seu quarto enquanto eu me afundava não cama. Algumas poucas batidas da música da festa soavam enquanto eu pegava no sono, mas eu não conseguia discerni-las enquanto aquela outra voz me engolia, sufocava os pensamentos em minha mente.
Acordei pouco tempo depois, por causa de uma das muitas palestras sobre autocuidado e essas coisas. Os inúmeros comprimidos eram rotina, a garganta arranhada também. Minha voz soava rouca quase que o tempo todo, meu cabelo desgrenhado e começando a ficar grande demais. Pra resumir, eu me sentia um mendigo. Mas um mendigo feliz.
Nos próximos três dias passei as tardes com Kayori e Antoni, geralmente todos rindo de algo ou alguém. Histórias foram trocadas, confidências e revelações, e em cada uma delas eu sentia que Toni evitava falar da minha irmã. Eu buscava fazer o mesmo. Depois do terceiro dia, Kayori finalmente conseguiu organizar seu plano com o irmão, e agora estávamos lá, de frente para uma porta branca à espera dele. Eu o reconheci imediatamente. Era o garoto do banheiro, da festa a dois dias atrás. Ele me examinou por um tempo, como se pudesse se lembrar de mim também.
— Meu nome é Mitsuda. Muito prazer.
— Matheus. Prazer.
Era uma sala repleta de computadores, com monitores coloridos, teclados e caixas de som em um canto, alguns microfones e cinco cadeiras de rodinhas. Me lembrei da vez em que meu pai comprou uma agência de rádio, ele havia levado eu e Margarett para assistir a compra. Nós ficamos girando nas cadeiras confortáveis como dois bobos alegres, rindo por todos os lados.
— Eu fiz uma pesquisa. — O garoto começou a explicar. — Antes de entrar aqui, a maioria das pessoas faz uma entrevista, e isso é gravado. Ninguém pode ter acesso, mas... eu dei um jeito.
O garoto era alto, estufando o peito com orgulho ficava maior ainda. Tentei não admira-lo, mas foi quase impossível depois que ele nos levou até os computadores e começou a clicar nas teclas. A explicação continuou.
— Eu fiz um levantamento. São cerca de oitenta garotas aqui, tirando as funcionárias da limpeza, psicólogas e secretaria. Juntei essas vozes e modifiquei, assim você não vai entender as palavras. Eu ia alterar para parecer um canto, mas acho que só com o timbre já da pra perceber. Fora que... poderia ficar muito alterado, e assim te desviar da voz original na sua cabeça.
O garoto apertou mais algumas vezes nas teclas e no mouse, depois retirou um pendrive de uma das caixas pretas ao redor. Ele estendeu o objeto pra mim, e em seguida me ofereceu um adaptador para que eu o conectasse no meu celular.
— Estão todas aí. Todas as vozes. Se não achar nenhuma eu busco pelas profissionais, mas duvido que tenha chance com alguma delas.
O garoto sorriu, e eu não consegui me impedir de sorrir junto. Ele havia feito muito.
— Obrigada.
Estendi a mão para cumprimentá-lo, mas ele a afastou com um tapa e me deu um meio abraço, passando o braço longo pelos meus ombros.
— Não me agradeça. Faço tudo por um amigo da minha maninha.
Ele sorriu para Kayori, que sorriu também. A troca de olhar entre eles foi tão confidente, que uma parte dolorida de mim sangrou. Eu precisava achar aquela garota. Talvez ela pudesse ser a única capaz de me concertar, e me ajudar a voltar para minha irmã.

Komentar Buku (2154)

  • avatar
    MesiasManoel

    otimo

    2d

      0
  • avatar
    Marcella Rocha

    top

    3d

      0
  • avatar
    ResenoKaue

    muito bom

    8d

      0
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